O PT paulista tem a tradição da divisão - mas mantém um padrão de, no fim, submeter as disputas internas ao projeto nacional do partido. O projeto de 2006 é eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia principal é a de fazer do presidente Lula não apenas o grande eleitor dessas eleições mas, mais do que isso, um eleitor muito qualificado. O PT nacional - que é basicamente paulista - assumiu que, num processo eleitoral com essas características, Lula é a palavra final nas decisões de alianças estaduais. O empenho pessoal de Lula, entendem os petistas que articulam próximos ao presidente, será maior ou menor a depender do seu poder de decisão sobre as políticas estaduais.
Os grupos partidários resistem ao projeto de retirar o candidato do PSB, deputado Ciro Gomes (CE), da disputa para a Presidência, acenando para ele com a candidatura ao governo de São Paulo. Mas existe o consenso de que o partido se submeterá a isso, se Lula assim o quiser.
"Se Lula decidir, Ciro vai ser o candidato" - esta é a premissa das conversas com integrantes do PT paulista. As críticas ao deputado, no entanto, são profusas, inclusive pela sua insistência em dizer que "o PSB não é sublegenda do PT", quando todo o processo de escolha de candidatos do PT de São Paulo praticamente está paralisado esperando a decisão de sua candidatura ao governo.
Manter disponível para Ciro a possibilidade de ser candidato ao governo paulista, em vez de ser candidato a presidente, foi uma decisão de Lula, para a qual ele chamou o aval do presidente nacional do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP), "Ciro, você transfere o título eleitoral para São Paulo e depois a gente conversa - não é, Berzoini?" Foi com essa conversa aparentemente casual que o presidente Lula colocou Ciro no cenário eleitoral paulista, pouco antes de 2 de outubro, fim do prazo de domicílio eleitoral e filiação partidária para quem quer disputar as eleições do próximo ano.
Era uma reunião pequena, mas tinha os elementos que Lula precisava para manter aberta a possibilidade de Ciro se candidatar ao governo do Estado de São Paulo: de um lado, o próprio Ciro; de outro, Berzoini, capaz de dar aparência partidária à sua articulação. A proposta embutiu o compromisso de que terá ao seu lado o PT, se quiser ser candidato ao governo de São Paulo - o partido está amarrado a ele.
"Berzoini acabou avalizando a proposta porque foi colocado numa situação desconfortável", afirma um petista de São Paulo que foi um dos responsáveis pela reação pública do PT à opção Ciro - a apresentação de seis pré-candidatos do partido ao governo, no dia 6: o o senador Eduardo Suplicy, a ex-ministra e ex-prefeita Marta Suplicy, o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, os deputados federais Arlindo Chinaglia e Antonio Palocci, e o ministro da Educação, Fernando Haddad. Ainda assim, a demonstração pública de contrariedade com o desembarque de Ciro em São Paulo escondeu o único elemento de unidade de todos os grupos internos do PT do Estado: a concordância de que é de Lula a palavra final.
A única declaração pública de contrariedade ao estilo Ciro de chegar a São Paulo foi de Marta. "Ele chegou atacando o meu partido", justificou-se a ex-prefeita, que também manifestou publicamente o seu apoio à candidatura do ex-ministro Antonio Palocci ao governo. "Palocci tem o perfil do eleitor paulista", disse. Mesmo ela também faz a ressalva de que se submeterá à decisão de Lula no caso paulista.
Para um dos paulistas que articula nacionalmente a decisão de Lula, mais vale uma aliança na mão do que um governo voando, mesmo num Estado como São Paulo. Para os petistas que atuam localmente, embora Lula tenha perdido em 2006 nos dois turnos das eleições paulistas e o PSDB mantenha a hegemonia da disputa estadual, as chances de o partido vencer no Estado são menores ainda sem o empenho pessoal do presidente na campanha paulista. "Se ele bancar a eleição, está bom para nós", diz um parlamentar petista.
A disputa pelo Senado é um elemento importante. O recuo do líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), quando, em plena crise no Senado, deixou a liderança, é atribuído à pressão de Lula - que teria deixado claro ao senador que não faria nenhum empenho por sua candidatura à reeleição se ele expusesse o governo com sua renúncia ao cargo. O senador também contrariou parcelas importantes do partido regional quando expressou uma grande oposição à candidatura de Ciro Gomes ao governo internamente, e saiu da reunião dizendo, para jornalistas, que estava de acordo com a ideia.
Marta Suplicy é candidata ao Senado. E a segunda vaga está sendo negociada com o PCdoB no Estado. Se a eleição para o governo paulista mostrar-se muito difícil e Ciro resolver mesmo ser candidato a presidente, Mercadante pode ser empurrado para a disputa ao Palácio dos Bandeirantes para desocupar a sua vaga.Maria Inês Nassif