Mesmo depois de passar por quatro penitenciárias, cumprir quase sete anos de prisão e ser candidatíssimo a ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, Vicente Viscome, o primeiro vereador cassado da História de São Paulo, tenta o retorno à vida política, aos 70 anos, nesta eleição, como candidato a uma vaga na Câmara de São Paulo. Acusado de ter chefiado o maior esquema de corrupção da cidade, conhecido como a Máfia dos Fiscais, o comerciante, dono de um patrimônio de R$ 13 milhões, diz que é "ficha limpa" e que quer voltar à vida pública para ser fiscal daqueles "que iludem o povo".
- Aquilo (a cassação dele) foi armação política. Aprendi na cadeia que político é pior que traficante. Eu quero voltar para fiscalizar essa gente que ilude o povo, porque a coisa está muito pior hoje. A propina continua - diz ele. - Já cumpri a minha pena. Vou disputar essa eleição porque sou um ficha limpa.
Não é bem assim. Cassado em junho de 1999, Viscome perdeu os direitos políticos por oito anos. Em 2000, ele foi condenado judicialmente a 16 anos e quatro meses de prisão por crime contra a administração pública e formação de quadrilha pelo envolvimento na Máfia dos Fiscais - esquema de cobrança de propina de ambulantes por funcionários das antigas administrações regionais, controladas politicamente por vereadores da base governista na gestão Celso Pitta (1997-2000). Em 2005, Viscome conseguiu o indulto para ficar em liberdade e, em 2007, teve a pena extinta.
Na eleição de 2008, o vereador cassado fez a primeira tentativa para retornar à Câmara Municipal, mas foi impedido pela Justiça, que entendeu que ele ainda estava inelegível. Naquela época, condenados por crime contra a administração pública não poderiam disputar eleição por três anos contados da extinção da pena. A Lei da Ficha Limpa ampliou esse prazo para oito anos. Com isso, Viscome somente estará apto a se candidatar a partir de 2015.
O pedido de candidatura dele ainda não foi julgado. Viscome e outros 1.189 candidatos a vereador aguardam a manifestação do juiz eleitoral.
Dizendo-se inocente, apesar de todas as condenações sofridas, Viscome afirma que já começou a fazer campanha e está disposto a gastar até R$ 3 milhões para se eleger.
Sobre a cassação do ex-senador Demóstenes Torres, ele diz que só acompanhou pelos jornais e resumiu, assim, o episódio:
- Ele caiu porque era o mais fraco. Mas lá são todos iguais.
Para o ex-catador de papelão, hoje dono de mais de 30 imóveis na cidade, a cassação é um caso superado, pessoalmente e politicamente. Ele fala com orgulho do feito de ter obtido, em 2008, 62 mil votos, anulados após a impugnação da sua candidatura.
- Eu vou ganhar agora e vou ser um exemplo para São Paulo - provocou.
Sem qualquer influência na vida política da cidade, Viscome nega ressentimentos e recorda que deu projeção ao prefeito Gilberto Kassab (PSD).
- Eu coloquei ele (sic) na Secretaria de Planejamento (na gestão Pitta) - sustenta.