21 de setembro de 2009

Lula domina agenda política mesmo no fim do mandato


É um Lula inteiramente à vontade no cargo que emerge da entrevista do presidente da República que o Valor publicou na quinta-feira, dia 17. Basta ver, por exemplo, como ele fala quando se refere à decisão do Banco do Brasil de comprar a Nossa Caixa e o banco Votorantim: na primeira pessoa do singular. É um Lula amadurecido, que tem em alta conta o próprio governo, como demonstra em cada frase e a cada palavra. O presidente passa a impressão de um governo em permanente movimento, embora esteja a 100 dias de seu último ano de mandato.

O que Lula não quer é entrar em 2010 como seus antecessores entraram no último ano de mandato, pelo menos desde a redemocratização, em 1985: com a popularidade no lixo, a sensação de que o seu governo acabou e que nada resta a fazer a não ser deixar o tempo escoar até passar a faixa para o sucessor. Um presidente em que nem o vento bate nas costas, para usar a sua própria expressão.

Esse é o contexto em que se situa o anúncio do lançamento que ele espera fazer, no próximo ano, da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento, uma espécie de PAC 2 para o período 2011-2015.

Em vez de um fim antecipado de mandato, Luiz Inácio Lula da Silva promete como corolário de sua passagem pelo Palácio do Planalto a consolidação das leis sociais, o que mais uma vez remete à comparação de seu governo com o de Getúlio Vargas, que passou para a história como o autor da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT.

Independentemente das diferenças conceituais e partidárias, Lula surpreende ao registrar que mudou a qualidade das eleições no país, ao constatar que ele e Fernando Henrique Cardoso já foram um avanço. "Feliz do país que vai ter uma disputa que pode ter Dilma (a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff), Serra (o governador de São Paulo, José Serra), Marina (a senadora Marina Silva), Heloisa Helena (vereadora em Maceió), Aécio (o governador de Minas Gerais, Aécio Neves)".

O país torce para que o presidente da República tenha razão, se empenhe nesse sentido e a eleição de 2010 transcorra sem os "aloprados" do pleito passado ou "trogloditas" de direita, outro termo que Lula incorporou a seu vocabulário na entrevista.

A advertência é procedente, sobretudo quando se identifica no interior do governo do PT murmúrios sobre um suposto "risco Serra", em referência ao pré-candidato que lidera as pesquisas de opinião, José Serra, devido as suas conhecidas divergências em relação às política de juros e câmbio. Lula foi vítima do baixo nível, das manobras jurídicas e da contrapropaganda eleitoral, como falou "de cátedra" o presidente ao Valor.

Vale lembrar o que ele disse: "Espero que minha vitória e meu governo sirvam de lição para essas pessoas que ficam dizendo ´o Lula era risco, agora o Serra é risco, a Dilma é risco, a Marina é risco, o Aécio é risco´. É uma cretinice política". Tem razão o presidente.

Quando assumiu, em 2003, o país estava quebrado. Ele, no entanto soube utilizar corretamente os instrumentos deixados por FHC para combater e sair da crise. E eram instrumentos até então demonizados pelo PT, como os bilhões emprestados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o país acertar sua contabilidade - o Brasil devia mais do o mundo estava disposto a financiá-lo.

Como diz o presidente, "é tão sério governar um país da magnitude do Brasil que ninguém que entre aqui vai se meter a fazer bobagem". Ele e o PT são prova viva, ao executar uma política econômica de contorno liberal com forte tempero social. Quando veio a crise de proporções bíblicas do ano passado, muitos foram os que duvidaram de que seu governo passasse por tal teste sem levar um tombo. Não foi a "marolinha" que ele imaginou, mas o desempenho no combate à crise mereceu o reconhecimento internacional.

Lula deixa entrever que pode disputar novamente o Palácio do Planalto, em 2014, se a ministra Dilma Rousseff perder a eleição do próximo ano ou se, ganhando, decidir não disputar a reeleição. O que importa, no atual momento, é a eleição de 2010. O que se espera é que ela ocorra nos termos enunciados pelo presidente da República, o que, convenhamos, não faz parte das práticas e da tradição do país.Valor Econômico

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