Antes da crise financeira internacional, a economia brasileira cresceu 6,8% no terceiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2007. Este forte crescimento superou as expectativas e foi puxado pelo investimento das empresas e pelo consumo das famílias. Na mesma comparação, o investimento aumentou 19,7% e a demanda das famílias foi 7,3% maior - vigésima alta consecutiva. Juntos, estes dois componentes do consumo fizeram a demanda interna registrar expansão de 9,4% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano passado. Os números do terceiro trimestre não foram afetados pela crise, instalada após a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 15 de setembro.
De acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na série com ajuste sazonal, que compara o terceiro trimestre com o segundo, o crescimento foi igualmente forte e o aumento do PIB chegou a 1,8%, com alta de 2,8% no consumo das famílias e de 6,7% no investimento (medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, que registra gastos em máquinas, equipamentos e construção civil).
De janeiro a setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) subiu 6,4%, maior taxa de crescimento desde o início da atual série do IBGE, em 1996. Em 12 meses, o PIB também bateu recorde no período analisado e apresentou alta de 6,3%. "O PIB do terceiro trimestre mostra uma realidade que não existe mais, diferente da atual conjuntura", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, que prevê crescimento zero no quarto trimestre de 2008 sobre o terceiro trimestre, embora projete alta de 5% na comparação com o último trimestre de 2007, com base em indicadores já divulgados sobre a indústria, venda de automóveis e a confiança do empresariado. Para o primeiro trimestre de 2009, ele prevê queda de 1,4% em relação ao último trimestre de 2008 e alta de 2% sobre o igual trimestre de 2007.
Já a MB Associados estima queda de 1% no quarto trimestre sobre o terceiro trimestre e alta de 3,2% em relação ao quarto trimestre do ano passado. A consultoria Tendências é mais pessimista e vê queda de 1,3% no quarto trimestre em comparação com o terceiro e elevação de 3,1% sobre o mesmo trimestre de 2007. Para 2008, as estimativas variam em torno de 5,6% a 6,2%, sob reflexo da forte expansão nos nove primeiros meses do ano.
A demanda das famílias no terceiro trimestre foi garantida pelo crédito e pela massa salarial, que foi 10,6% maior que a de igual período de 2007, devido ao aumento do número de postos de trabalho e da renda. Já o crédito a pessoas físicas cresceu, mas a um ritmo menor: passou de 32% para 29,6% entre o segundo e o terceiro trimestres (em relação aos mesmos períodos de 2007).
Pelo lado da oferta, a indústria foi o destaque do PIB no terceiro trimestre, com alta de 2,6% em relação ao segundo (com ajuste sazonal) e de 7,1% em relação ao terceiro trimestre de 2007. Dentro da indústria, a construção civil cresceu expressivos 11,7% na comparação com o igual trimestre de 2007.