4 de dezembro de 2008

Brasil corre menos risco de "quebradeira"


A forte retração na oferta de crédito para o consumo deve quebrar mais varejistas nos Estados Unidos nos próximos meses, avalia Ira Kalish, diretor global de pesquisas da firma de consultoria Deloitte para área de bens de consumo e varejo. Algumas redes americanas de médio e até mesmo de grande porte, como a Circuit City, pediram concordata recentemente e espera-se que esse número aumente nos primeiros meses de 2009.


No Brasil, porém, é mais remoto o risco de quebra generalizada de varejistas, prevê Altair Russato, sócio da Deloitte no Brasil para o setor de bens de consumo e varejo. "As redes brasileiras passaram a ser mais conservadoras e apresentam hoje uma estrutura mais sólida de capital do que possuíam no passado", acrescenta o consultor.


Em 1998, muitas redes nacionais foram à lona após um forte aumento na taxas de juros promovido pelo governo, o que causou uma elevação aguda da inadimplência. Na época, grandes varejistas, como Arapuã, Mesbla e Mappin, faliram ou pediram concordata, deixando um vácuo no mercado que seria ocupado mais tarde por outras redes, como Casas Bahia, Magazine Luiza e as cadeias de hipermercados Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar (Extra).


Na avaliação do consultor Marcos Gouvêa, da Gouvêa de Souza, a atual restrição no crédito fragiliza as empresas que já não tinham uma situação de caixa muito confortável e esse cenário deve levar a um maior movimento de fusões e aquisições no setor em 2009. No entanto, diz o consultor, há uma diferença muito grande entre os perfis dos consumidores no Brasil e nos Estados Unidos. No mercado brasileiro, o cartão de crédito é ainda um meio de pagamento, enquanto, nos Estados Unidos, os consumidores utilizam o cartão para contrair e rolar dívidas.


"A crise do "subprime" começou no verão de 2007, mas os consumidores americanos continuaram, mesmo depois disso, contraindo dívidas no cartão de crédito. Esse movimento só foi revertido mais recentemente, quando os bancos deixaram de ampliar os limites e elevaram as taxas de juros (para rolagem dos financiamentos). Isso causou um sério problema para o varejo", afirma Kalish.


Na lista de "vencedores" e "perdedores" com a crise financeira, o consultor americano coloca no primeiro grupo as redes de desconto, como o Wal-Mart, e algumas varejista de vestuário, enquanto as lojas de departamento estão no segundo grupo.

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