No evento que marcou a extração do primeiro petróleo da camada pré-sal, realizado ontem no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou a Petrobras como a "mãe" da indústria do País, que para ele deve ser usada para desenvolver a economia brasileira. Reforçando o papel da companhia no desenvolvimento das novas e imensas reservas de petróleo, Lula disse que, apesar de a empresa ter ações negociadas na bolsa de Nova York, é preciso pensar na contribuição que a estatal pode dar para o desenvolvimento da indústria.
Em meio a especulações da criação de uma nova estatal para cuidar do pré-sal, o presidente criticou os que dizem que a Petrobras "vai ser abandonada", o que, segundo ele, é uma preocupação também do presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli. "É como se eu dissesse que minha mãe não presta, que eu quero outra, porque a Petrobras é uma mãe para a indústria do País", disse o presidente, de improviso, durante cerimônia que marcou a extração do primeiro petróleo da camada pré-sal no campo de Jubarte, na bacia de Campos, em frente ao Estado do Espírito Santo.
Mais cedo, o presidente participou, a bordo do navio-plataforma JK (P-34), do início da extração em Jubarte. Ele acompanhou o processo e sujou as mãos com o petróleo extraído, carimbando em seguida os macacões das autoridades presentes. No momento de carimbar a roupa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), colocou as mãos nas costas da presidenciável para 2010. O evento foi cercado de cunho político, com a presença de parlamentares e do governador Paulo Hartung, do Espírito Santo.
Lula citou os investimentos bilionários da Petrobras nos próximos anos, para ilustrar a importância da estatal na economia, dizendo que a empresa vai precisar de 200 plataformas nos próximos anos, 38 sondas e mais uma série de bens e serviços para desenvolver os seus campos. O presidente disse ainda que, frente ao papel desenvolvimentista da Petrobras para o País, não adianta a estatal economizar US$ 100 milhões contratando estaleiros de Cingapura, simplesmente "porque é uma decisão empresarial, porque ela tem ações na bolsa de Nova York", em vez de fomentar a indústria naval nacional.
O presidente voltou a afirmar que os recursos do pré-sal vão ser usados para acabar com a pobreza do Brasil e para pagar a dívida com a educação pública.
Presente na cerimônia, o presidente da Petrobras fez questão de frisar que, apesar de a empresa ser a principal responsável pela descoberta do pré-sal, essa riqueza deve ser usada para o crescimento do País, deixando claro que está afinado com o discurso de Lula. Segundo Gabrielli, a exploração no campo do Jubarte será muito útil para as futura produções em todas as áreas do pré-sal.
O campo de Jubarte teve descobertas em águas rasas e perto da costa, com uma espessura muito menor - de apenas 200 metros de sal, contra os mais de 2 quilômetros de Santos, onde está Tupi, cuja descoberta foi anunciada em 8 de novembro de 2007. Os Testes de Longa Duração em Jubarte, que começou ontem a produzir cerca de 18 mil barris diários de petróleo de alta qualidade (30 graus API), serão fundamentais para a obtenção de dados para a exploração da reserva de Santos. "É uma escola que vai nos ensinar ainda mais, o que iremos fazer com Tupi, Júpiter, Carioca e todos os blocos que temos na bacia de Santos", disse Gabrielli. "Por ter sido produzido na plataforma JK (P-34), mostra que a produção vai se fazer com a combinação do crescimento do País como um todo", acrescentou.
A estatal ainda não sabe o tamanho da reserva do pré-sal de Jubarte, que já produz 35 mil barris de petróleo por dia na camada pós-sal. Com o pré-sal, o Brasil poderá se tornar uma potência mundial do petróleo se forem confirmadas as estimativas para toda a área, uma faixa em águas ultraprofundas que se estende do Espírito Santo a Santa Catarina na costa brasileira.
Ainda sem avaliação definitiva, a expectativa é de que a imensa área, que pode estar interligada, contenha bilhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás natural).Somente em Tupi, único dos sete campos perfurados na bacia de Santos que possui estimativa, o volume das reservas seria entre 5 e 8 bilhões de barris de boe, cerca de metade das atuais reservas provadas exploradas pela Petrobras