3 de setembro de 2008

Não foi aqui


Levantamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) descarta o uso de equipamento do órgão para gravação da conversa telefônica entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres. Com isso, ganha força no governo a hipótese de que o grampo teve origem no sistema de telefonia do Senado e não na Abin. Diretor afastado da agência, Paulo Lacerda, disse a assessores suspeitar de espionagem a serviço do banqueiro Daniel Dantas.


Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastar o direto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, ganhou força ontem entre os órgãos de investigação a hipótese de que o suposto grampo nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) tenha sido originado no sistema de telefonia do Senado.


Na avaliação de Lacerda, que não quis dar entrevista mas teve uma longa reunião, ontem, com seus assessores, a única coisa certa é que uma conversa entre Mendes e Demóstenes Torres foi grava. Na reunião com assessores, o diretor afastado disse que o leque de suspeitas é enorme e inclui, além do Senado, agentes da própria Abin, detetives particulares – sobre os quais não há controle – e ainda empresas especializadas em espionagem de alto quilate do banqueiro Daniel Dantas. Uma delas, a Telemont, que controla sistemas telefônicos de vários órgãos públicos, já foi acusada de espionagem.


O ex-diretor da Abin acha que os advogados de defesa de Dantas construíram uma tese segundo a qual a Abin teria feito espionagem ilegal durante a Operação Satiagraha e pretendem usá-la para tentar anular ou, no mínimo atenuar, a situação do banqueiro nos processos que correm na Justiça Federal em, São Paulo . Um grampo no telefone do presidente do STF, segundo o delegado, seria um argumento jurídico contundente para prejudicar as acusações contra o banqueiro. Lacerda também afasta também afasta a hipótese do delegado Protógenes Queiroz ter se utilizado de escuta ilegal na Satiagraha.


Sugerida inicialmente por uma declaração do general Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, a suspeita de o grampo partir do Senado foi reforçada pelo resultado de um levantamento preliminar feIto ontem na própria Abin, onde praticamente foi descartado o uso de equipamentos do órgão - que são auditáveis - e considerada remota a possibilidade de envolvimento de um servidor da ativa.

Recomendação

O delegado Paulo Lacerda recomendou a seus assessores um pente fino nos quadros de pessoal e nos equipamentos para auxiliar a investigação da Polícia Federal. Ele não acredita no envolvimento de servidores e diz que os equipamentos em poder da Abin, idênticos aos do Exército, são sistemas anti-grampo, que não servem para monitorar. Uma irregularidade dessa natureza, na avaliação da Abin, seria facilmente detectável por varredura ou pelos controles internos dos funcionários.

O caminho mais viável, segundo sugeriu Lacerda, é a Polícia Federal requisitar formalmente à revista Ve;ja os documentos ori­ginais que amparam a reportagem, o que poderia, através de uma pe­rícia especializada apontar indícios sobre a origem da escuta. O de­legado disse a assessores que o nome do suposto servidor que teria en­tregue os documentos à reporta­gem poderia ser mantido no ano­nimato ou, mediante acordo com o Ministério Público Federal, ser in­cluído num programa de proteção a testemunhas.



Risco de vida



Lacerda acha que em decor­rência da repercussão do caso, o informante de Ve;ja corre risco de vida - e poderia fazer um acordo que lhe garanta a integridade física e o anonimato, mas que ajude a es­clarecer o suposto esquema ilegal de espionagem. O delegado sustenta que não há hipótese de envolvimento institucional da PF ou da Abin.

- Torço para que a Polícia Fe­deral possa desvendar o caso e dê condições para mostrar esse erro lamentável, baseado numa suposta testemunha. Posso não conhecer as pessoas da Abin, mas sei o que fiz e o que não fiz - comentou Lacerda a um assessor.

Na sua opinião, seria uma "idiotice" um servidor da ativa usar a estrutura interna para grampear e, se o fizesse, segundo suas próprias palavras "teria que ser internado" por loucura.

Enquanto durarem as investigações da Polícia Federal – que serão comandadas pelos delegados William Marcel Mondad e Rômulo Barredo - Lacerda e os outros diretores afastados ficarão lotados no GSI. Ele acha que o presidente Lula, pressionado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim - a voz que mais pesou na decisão de afastarnento - deu uma resposta política ao caso. O delegado aguardará os próximos 60 dias -e depois tomará uma decisão sobre seu futuro. Diz que não tem apego ao cargo, mas quer o esclarecimento definitivo do caso.

O presidente Lula disse ontem que afastou Lacerda para dar transparência às investigações. Na CPI do Grampo, o general Jorge Félix defendeu o delegado, garantiu que a Abin não se envolve em espionagem e afirmou que todas as hipóteses - inclusive a que aponta para o envolvimento de um servidor da Abin - devem ser consideradas na investigação. O presidente do Congresso, Garibaldi Alves (PMDB-RN) mandou abrir uma sindicância interna.

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