11 de julho de 2008

IPCA surpreende e derruba juro futuro


O IPCA de junho, ao voltar a sugerir que a inflação atual brasileira é um fenômeno exclusivamente derivado do choque dos alimentos, chegou a derrubar ontem os juros futuros negociados na BM&F. A derrocada foi suavizada, à tarde, por discurso do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, entendido por parte dos operadores como sinal de que o Copom pode em sua reunião do dia 23 acelerar a velocidade de alta da taxa Selic. Os CDIs transacionados a futuro fecharam em baixa na BM&F comparativamente à terça-feira, mas distantes das mínimas do dia. Como exemplo, o contrato para janeiro de 2010, que cedeu de 15,20% do encerramento anterior para o piso de 15,03%, fechou a 15,15%. O swap de um ano, que havia caído de 14,49% para 14,39%, fechou a 14,44%.

Divulgado ontem de manhã pelo IBGE, o índice oficial de inflação relativo ao mês passado, em alta de 0,74%, surpreendeu positivamente por três razões: 1) Ficou abaixo da mediana das projeções mais recentes do mercado, de 0,78%; 2) Acusou forte desaceleração frente ao seu irmão gêmeo 15 dias mais novo, o IPCA-15 de junho, que avançou 0,90%; e 3) Mostrou que o ímpeto de alta se limita aos alimentos. Se do IPCA fossem retirados os alimentos, o indicador teria subido 0,34% no mês passado, com perda de vigor ante o core de maio, de 0,46%. Como observa a consultoria LCA, parte da diminuição do ritmo de alta dos produtos não-alimentícios adveio dos preços administrados. Estes, em conjunto, aumentaram 0,21%, ante a alta de 0,26% observada em maio. A parte mais substancial da desaceleração dos produtos não-alimentícios do IPCA foi detectada nos preços livres. Esse agrupamento variou 0,42% em junho, ante a alta de 0,59% no mês anterior. O alívio foi provocado pelo preços dos serviços e dos bens semi-duráveis.

Dólar oscila ao sabor do mercado acionário

Esse comportamento desmente a tese dos altistas de que há uma alarmante inflação de demanda a ser combatida impiedosamente pelo Copom. Na verdade, não. A economia brasileira já está se desaquecendo como o resto do mundo. Melhor do que ninguém, os tesoureiros de bancos que fecham negócios no DI - e que conversam com seus colegas da área de crédito -, sabem disso. Daí a resistência do DI em subir mesmo com Meirelles falando grosso. Mas quem se der ao trabalho de olhar desapaixonadamente para o seu discurso não notará nada de novo exceto uma tentativa, de resto desnecessária, de desmoralizar a crítica de setores altistas ("comprados" em taxa no DI futuro), os que labutam incansavelmente em favor de um choque de juros.

Meirelles disse que o BC trabalha para que o IPCA volte ao centro da meta de 4,5% já em 2009. As cem instituições pesquisadas pelo Focus prevêem, na mediana, 4,91%. Com essa garantia, pôs fim a insinuações de que o Copom estava perseguindo o objetivo mas só para 2010. Como o sistema de metas de inflação lida essencialmente com ações práticas, documentos e discursos destinados a coordenar as expectativas da sociedade, o BC obviamente não poderia jogar a toalha em relação a um ano-calendário que ainda irá demorar seis meses para começar. Se a bolha das commodities e do petróleo arrebentar em 2008, não haverá inércia inflacionária (como demonstra o IPCA divulgado ontem), capaz de furar o centro da meta mesmo que a Selic nem chegue a 14% no fim do ano.

Textualmente, o discurso de Meirelles não passa a impressão de que se pretenda aumentar de 0,50 ponto para 0,75 ponto a dose de aperto por reunião do Copom. "O BC já vem atuando e continuará a agir de forma a trazer a inflação de volta ao valor central da meta de 4,5% de forma tempestiva, isto é, já em 2009", disse ele. Vale grafar o já vem atuando em negrito. Ou seja, o ritmo de alta não precisa ser acelerado para que se alcance o objetivo já no ano que vem. "Os formadores de opinião e formadores de preço não devem ter dúvidas quanto à disposição da autoridade monetária de tomar decisões visando promover a convergência da inflação para o centro da meta em 2009", frisou Meirelles. Os únicos que cultivam interessadamente essas dúvidas são os "comprados" em taxa.

Como a disparada do petróleo em Nova York - o barril fechou cotado a US$ 141,65, em alta de 4,12% -, por concentrar-se nos momentos finais do pregão da Nymex e envolver pequeno lote de contratos, teve todo jeitão de ofensiva meramente especulativa, as bolsas de Wall Street não deram a menor importância a ela. O Dow Jones fechou em alta de 0,73%. O dólar acompanhou o vaivém das bolsas, oscilando entre R$ 1,6070 e R$ 1,6220, para fechar com leve avanço de 0,06%, a R$ 1,6110.--Valor Econômico

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