16 de julho de 2008

Exportação deverá ser recorde em 2008


Exportar jogadores brasileiros nunca foi um negócio tão rentável como nos últimos dois anos. Se em 2007 a venda de atletas para o exterior bateu recorde, atingindo a marca de US$ 222,6 milhões, neste ano o viés é o mesmo. Só em sete transações já concluídas em 2008, os clubes arrecadaram US$ 64,5 milhões. E, segundo um levantamento feito pelo Valor, essa cifra poderá subir para US$ 201 milhões, levando em consideração só as possíveis negociações envolvendo os destaques da primeira divisão do Campeonato Brasileiro deste ano.

Não é à toa que a receita da venda de jogadores representou 53% do faturamento de 2007 do Sport Club Corinthians Paulista e perto de 43% do São Paulo Futebol Clube. Já no caso do Clube de Regatas do Flamengo, a parcela é de 10%, um indício de que time de maior torcida do Brasil não vem revelando grandes atletas nos últimos anos. A média, no entanto, é de 35%.

Historicamente, a venda de atletas e as cotas de televisão são responsáveis por cerca de 50% das receitas dos clubes. "O grande negócio do clube brasileiro é a venda de jogadores para o exterior", afirma Alvaro Reis Serdeira, agente Fifa há cinco anos e que representa atletas como Fábio Simplício, revelado pelo São Paulo e que hoje defende o Palermo da Itália. "Boa parte da receita vem da comercialização de atletas, porque o marketing ainda é pouco", reforça o ex-goleiro e hoje agente Fifa Gilmar Rinaldi, que é o empresário do atacante Adriano, da Internazionale de Milão.

Mas não é só a cifra de 2007 que impressiona. O crescimento ano após ano também é significativo. Entre 2007 e 2006, o incremento em dólar foi de 70%. E em uma década o valor praticamente dobrou, pulando de US$ 109,8 milhões em 1997 para US$ 222,6 milhões do ano passado. De acordo com o Banco Central, essas cifras incluem todas as negociações envolvendo atletas profissionais brasileiros das mais diversas modalidades que se transferiram para o exterior. Mas 99% desse montante vem do futebol.

O levantamento feito pelo Valor, contudo, não contempla a venda de atletas de pouca expressão para alguns destinos exóticos, como Albânia ou Bósnia-Herzegovina, que costumam engordar o volume de transferências internacionais todos os anos. "Só 3% ou 4% da venda de jogadores para o exterior envolvem grandes cifras. A maior parte vai trabalhar por um salário mensal que não supera os 500 euros ", afirma Rinaldi.

Já os números da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mostram uma realidade diferente, já que incluem todos os tipos de transações. Nos primeiros cinco meses, de acordo com a entidade, 475 jogadores seguiram para o exterior, o que significa uma queda de 50% em relação aos 947 profissionais que deixaram o país em igual período do ano passado, explicada basicamente por uma movimentação atípica em maio do ano passado, quando 486 jogadores foram negociados. Tradicionalmente, o ápice da temporada de negociações com os clubes da Europa se dá em agosto de cada ano. Em doze meses, na comparação ntre 2007 e 2006, houve um aumento de 27% em número de jogadores que foram para o exterior.

Mas, existe também um movimento de repatriação por parte dos clubes brasileiros. Os dados da CBF mostram que nos primeiros cinco meses deste ano 403 jogadores retornaram ao Brasil, sendo que no ano passado o total não ultrapassou 500.

Mas quem fica com a maior parte do bolo em uma venda de atletas? Segundo Rinaldi e Serdeira, é o clube ou quem investiu no atleta. Mesmo porque a regra é clara entre os agentes Fifa. Pela legislação, um agente Fifa está autorizado a cobrar no máximo 10% da transação. "Mas nessas negociações de vulto essa fatia cai muito ou até desaparece. Eu mesmo já fiz negócios onde abri mão desses 10% e fiquei com um percentual dos vencimentos salariais do atleta. Em troca, eu organizei a parte contábil e fiz o planejamento de carreira", detalha Serdeira. "Se o clube manteve a posse dos direitos federativos, 90% da venda é dele e não de empresários, como se diz por aí", acrescenta Rinaldi.

É o caso por exemplo do zagueiro Henrique, que se transferiu do Palmeiras para o Barcelona por ? 10 milhões de euros recentemente. Desse total, estima-se que a Traffic ficou com 80% do valor da transação e o restante foi parar nos cofres do Palmeiras. A Traffic contratou o atleta do Coritiba no início de 2008, pagando cerca de R$ 6 milhões.

Outro caso emblemático poderá acontecer com o Corinthians, que especula-se tem proposta por André Santos. Caso o clube alemão Werder Bremen confirme os 5 milhões de euros, só 27,5% desse valor irá para os cofres do Timão, já que o Figueirense ainda é dono de 50% e o restante está nas mãos de Delcir Sonda, dono dos supermercados Sonda.

Para o ex-goleiro do São Paulo, não há pecado na profissão de empresário, desde que seja exercida com transparência. "O contrato entre um agente Fifa e um jogador não pode ultrapassar um ano e ao mesmo tempo o agente precisa providenciar um seguro que tem como beneficiário o atleta", completa Serdeira.

Ambos, no entanto, torcem o nariz para o grau de amadorismo e a boa dose de paixão que estão presentes no comando da maior parte das decisões dos dirigentes de clubes de futebol. Rinaldi lembra que na Espanha os sócios sustentam as agremiações, na Inglaterra são os acionistas e na Itália os times têm dono. "Precisaríamos desenvolver algo aqui. Talvez um meio termo entre o modelo inglês e o espanhol. Não sou contra a oferta de ações por parte das agremiações, mas é preciso discutir as propostas", afirma o ex-goleiro do São Paulo. Com os números que os clubes exibem nos seus balanços, a dificuldade seria achar um investidor que compre as ações.


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