30 de maio de 2008

Lula quer que ONU discuta preço de petróleo


A defesa da produção do etanol marcou o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o de El Salvador, Elias Antonio Saca, na abertura de um encontro empresarial entre brasileiros e representantes dos oito países que compõem o Sistema de Integração Centro-Americano (Sica). O grupo é formado por El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Guatemala, Panamá, Belize e República Dominicana.

Em declaração conjunta à imprensa, Lula e Saca afirmaram que os países do Sica e o Brasil irão pedir a convocação de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir o impacto do aumento dos preços do petróleo na alta das commodities agrícolas. Os dois afirmaram que esse pedido constaria do comunicado conjunto dos oito países, mas o texto final não traz a menção a ele. Lula chegou a dizer que fazia isso "contra o próprio interesse do Brasil", já que com as recentes descobertas anunciadas pela Petrobras, o país pode ficar entre os três que possuem as maiores reservas petrolíferas do mundo.

Com a reunião, o grupo pretende questionar a pressão internacional que se faz contra o etanol, culpando-o pelo aumento dos preços das commodities agrícolas. A Nicarágua, cujo governo é bem próximo ao do venezuelano Hugo Chávez, se opôs à idéia de convocação da reunião da ONU e à menção, no documento oficial do encontro, de que o etanol não afeta a segurança alimentar.

Na primeira viagem oficial de um presidente brasileiro a El Salvador, Lula prestou uma deferência à oposição do país, ao encontrar-se em um hotel com Mauricio Fulnes, candidato à presidência pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Uma guerra civil entre o governo e a FMLN matou cerca de 75 mil pessoas entre 1979 e 1992. A antiga frente guerrilheira tornou-se uma sigla de centro-esquerda, com ampla influência no Parlamento e o controle de diversas prefeituras, mas o governo segue nas mãos da direitista Aliança Republicana Nacionalista (Arena).

Fulnes é casado com a brasileira Vanda Pignatto, que preside um centro de estudos em El Salvador e é filiada ao PT. No país, se apresenta como "representante do PT em El Salvador". A eleição presidencial salvadorenha será em março de 2009 e a reeleição é proibida. Durante o encontro com o presidente Saca, Lula fez uma referência ao Fórum de São Paulo, entidade que reúne partidos e movimentos de esquerda de todo o continente e que foi articulada pelo PT em 1990. A FMLN fez parte dessa associação ainda num momento em que a luta armada existia em El Salvador.

No encontro fechado da cúpula dos oito países, Lula reclamou da lentidão no estabelecimento de um acordo entre os países do Sica e os do bloco composto pelo Brasil. "Sinceramente, não consigo compreender como os países da região podem negociar com os países mais ricos do mundo e, ao mesmo tempo, temer a competição das indústrias do Mercosul", disse. O Brasil defende um tratado de associação entre os dois blocos. Em seu discurso, Lula reiterou a proposta de um bloco econômico único na América Latina e Caribe, do México à Argentina.

O álcool corresponde a 48% das exportações de cerca de US$ 230 milhões anuais do Brasil para El Salvador. Com acordo de livre comércio com os Estados Unidos já em vigor desde 2004, o país tornou-se uma plataforma de exportação de investidores brasileiros para o mercado norte-americano. O álcool brasileiro é desidratado em El Salvador e em seguida enviado, com tarifa zero, para os Estados Unidos, em um momento em que o preço do barril de petróleo a US$ 131 impulsiona a demanda.

Há três anos brasileiros já aproveitam esta brecha. O maior investidor é a Crystalsev, que em sociedade com a Cargill e a salvadorenha Casa fatura cerca de US$ 150 milhões por ano com o negócio. Representando a empresa na comitiva presidencial, o usineiro Maurílio Biagi Filho, contudo, demonstrava frustração.

O governo salvadorenho não conseguiu a aprovação até ontem na Assembléia Nacional da mistura de 10% de álcool na gasolina, conforme era a expectativa dos empresários brasileiros que investem no país. "Esta mistura nos permitiria um salto, com a produção de álcool aqui. Nosso sócio salvadorenho mói 2,2 milhões de toneladas anualmente", disse Biagi. Ao discursar para empresários, o presidente Antonio Saca dirigiu-se a Biagi e procurou tranqüiliza-lo: "A lei do etanol vai estar pronta na Assembléia muito rapidamente. Nos interessa caminhar pelo mesmo rumo que o Brasil caminhou".

O etanol é o principal, mas não o único investimento brasileiro em El Salvador mirando o mercado norte-americano. No segundo semestre deste ano, segundo informação do Itamaraty, a gaúcha Pettenati Indústria Têxtil, de Caxias do Sul, deve inaugurar uma fábrica de tecidos em San Salvador, em um investimento de US$ 40 milhões.

No encontro bilateral, Lula anunciou a instalação de um escritório da Embrapa em San Salvador e a adesão do Brasil como sócio extraterritorial do Banco Centro-Americano de Integração Econômica. Segundo Lula, essa adesão é um novo caminho para financiar investimentos na América Central.

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