7 de janeiro de 2008

INVESTIMENTOS EM ALTA SUSTENTAM CRESCIMENTO


O investimento continuará sendo o principal motor do crescimento da economia brasileira neste ano. Na visão de economistas, a formação bruta de capital fixo (FBCF), equação usada para medir o comportamento do investimento, tende a manter o forte ritmo de expansão verificado no ano passado, quando cresceu entre 12,3% a 12,5%. Já a taxa de investimento, que afere a participação das inversões no Produto Interno Bruto (PIB), ficou próxima de 18%, conforme projeções de institutos de pesquisa e consultorias ouvidos pelo Valor.

O economista Marcos Felipe Casarin, do Grupo de Conjuntura do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), prevê um crescimento de 11% para a FBCF este ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) trabalha com 12%. Se qualquer um desses resultados for confirmado, será consolidada uma trajetória ascendente do investimento, nos últimos quatro anos, a taxas superiores a 10%, bem acima do PIB. Garante-se assim um cenário sustentado para a atividade econômica do país nos próximos anos.

O presidente do Ipea, Márcio Pochman, acredita que as medidas tomadas pelo governo para compensar a perda da CPMF não deverão afetar o investimento público. Na sua avaliação, os investimentos do governo poderão dobrar sua fatia no PIB, de 0,5% para 1%, devido às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que foram preservadas dos cortes no Orçamento após a derrota do governo na renovação da CPMF. Dessa forma, Pochman aposta em uma taxa de investimento recorde para este ano, na casa dos 19,2%, inédita desde os anos 70.

Mesmo as projeções mais conservadoras para o PIB de 2008 não parecem diminuir a disposição dos empresários para investir. Maurício Bähr, presidente do Grupo Suez no Brasil, que se prepara para disputar a concorrência da hidrelétrica de Jirau, segundo usina do rio Madeira, estimada em R$ 10 bilhões, está "com a agenda cheia".

Além de Jirau, o grupo de capital franco-belga está tocando as hidrelétricas de São Salvador (243 Megawatts) e a de Estreito (1.087 MW), onde é sócio da Vale, Alcoa e Camargo Corrêa. Ambas deverão começar a gerar energia em 2010. Os empreendimentos somam R$ 4 bilhões.

O presidente da Light, José Luiz Alquéres, também confirmou a disposição de aumentar em 2008 os investimentos da distribuidora carioca. Serão aplicados R$ 560 milhões em três projetos de geração de energia. Arnaldo Calbucci, do grupo Wilson Sons, da área de logística e portos, também planeja gastar mais este ano. "Vamos aplicar US$ 120 milhões na área de portos, embarcações offshore e na área de rebocadores portuários. Temos uma previsão otimista para a economia em 2008, principalmente na infra-estrutura."

Fábio Silveira, economista da RC Consultores, no entanto, mostrou preocupação com um possível impacto da crise internacional sobre o investimento e conseqüente crescimento do Brasil em 2008. Ele não prevê nova alta do juro básico, mas teme que o terceiro e quarto trimestres do ano sejam fracos em termos da atividade econômica por causa de um possível agravamento da crise americana. Isso não impede, porém, a RC Consultores de trabalhar com um projeção de crescimento de 5,5% do PIB brasileiro em 2008 e uma taxa de investimento de 18,6% do PIB.

Casarin, da UFRJ, aponta as importações e a produção de bens de capital como os principais fatores a impulsionar os investimentos em 2007 e também este ano, principalmente nos setores de infra-estrutura, construção civil e agrícola, maiores demandantes de máquinas e equipamentos. Segundo ele, outro fator que vai puxar com força a FBCF em 2008 é a construção civil. O economista prevê para este ano um "boom" do setor, apoiado pelo binômio "crédito habitacional e PAC".

Nos cálculos do Banco Central, o crédito habitacional deve atingir a marca de 1,6% do PIB em 2007, um percentual significativo se for levado em conta a recessão vivida nos últimos 20 anos pela construção civil. "Estamos no limiar de uma recuperação do setor de construção, que ainda tem muito a crescer. Em 1988, este número girava em torno de 8% do PIB. O Banco Central trabalha com uma marca de 3,5% do PIB em 2009 para o crédito habitacional", informou.

O que chama a atenção, porém, nessa curva ascendente do investimento no Brasil, é que o atual padrão de crescimento econômico, ancorado na demanda interna, vem se beneficiando e crescendo com a apreciação cambial. As importações de bens de capital cresceram 33% no ano passado enquanto a produção nacional registrou expansão entre 18% e 20%.

Para Marcos Casarin, se ao estímulo do câmbio forem somados a expansão do crédito e os ganhos de previsibilidade da economia propiciados pela estabilidade de preços, o cenário é altamente favorável às importações de bens de capital. "As importações de máquinas e equipamentos oferecem o melhor dos mundos para o empresariado: máquinas mais baratas e mais produtivas, ou produtividade alta e preços baixos."

Ele afirma que, ao contrário de 2004, quando a economia cresceu 5,7% e o investimento saiu do vermelho, os preços dos bens de capital nacional também não subiram em 2007. "Eles estão estáveis, elevando-se apenas 2,1% no ano, segundo o IPA-DI da FGV de máquinas e equipamentos. Isto tem contribuído para a produção de bens de capital crescer de forma acelerada a curto prazo como resultado da demanda por máquinas nacionais, incluindo caminhões", diz. "A Vale do Rio Doce arrematou toda a produção de caminhões pesados da Volkswagen. Todo caminhão que está saindo da fábrica da Volks em Resende (RJ) é da Vale", afirma. É um exemplo, segundo ele, do aquecimento da demanda interna por bens de capital.

A alta do investimento deve começar em 2008 a impactar favoravelmente o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) do país, hoje quase no limite (82% na média, segundo a Confederação Nacional da Indústria). Casarin prevê que a capacidade instalada deverá recuar, à medida que investimentos contratados em 2007 se transformem em expansão de produção por parte das empresas, garantindo o aumento da oferta de bens na economia, ou seja, crescimento do PIB. E, conseqüentemente, exorcizando a ameaça de uma inflação de demanda.


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