Apesar do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que encareceu o crédito, os bancos estão convencidos de que os consumidores continuarão em busca de empréstimos, especialmente neste início de ano, quando são obrigados a arcar com despesas extras de escola (materiais e matrícula), carro (IPVA, DPVAT e multas) e casa (IPTU). Como a idéia é a de que a população, sobretudo a classe média, está sem dinheiro para essas despesas, pois se endividou no Natal, a maioria das instituições dá uma carência para o vencimento da primeira parcela, entre 45 dias a 90 dias após a contratação do crédito. O prazo máximo para esses financiamentos é de 48 meses. As taxas de juros variam de 2,85% a 4,5% ao mês, mas chegam a 6,95% quando o interessado não é cliente.
Ser cliente, aliás, é condição exigida em quase todos os bancos para ter os empréstimos — uma exceção é a Nossa Caixa, onde o pagamento da dívida por não clientes é feito com cheque pré-datado. Antes de optar pelos financiamentos, é preciso analisar com cautela as condições oferecidas pelos bancos, principalmente depois do aumento do IOF, em vigor desde a quinta-feira. O IOF incidente nos empréstimos dobrou de 1,5% para 3% ao ano e, agora, há uma taxa fixa de 0,38%. Segundo o professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho, o empréstimo só deve ser tomado depois de analisadas outras possibilidades.
A primeira orientação é que, se tiver aplicação em caderneta de poupança ou em fundos de investimento, o consumidor faça o saque para quitar os compromissos à vista, que dá desconto. “A aplicação financeira é remunerada por juro menor que o cobrado no financiamento bancário”, explicou o especialista. Se não tiver dinheiro aplicado para arcar com contas como o IPVA e o IPTU, o mais vantajoso para o consumidor é recorrer aos parcelamentos oferecidos por estados e municípios responsáveis pelas cobranças desses tributos. Isso porque, feitas as contas, os juros são menores que os cobrados nos financiamentos bancários.
No caso do IPVA, em que o desconto para pagamento à vista gira em torno de 3%, o parcelamento equivale a juros de 3,13% ao mês. Além disso, não há a cobrança da Taxa de Abertura de Crédito (TAC) nem do IOF. “Essa taxa é menor que os juros bancários”, disse Dutra. Assim, ele indica o empréstimo apenas a quem precisa parcelar o IPVA em prazo superior a três meses. No caso do IPTU, em que o desconto para pagamento à vista é, em média, de 6% e o prazo se estende por até 12 meses, Dutra diz que o financiamento deve ser descartado. “Melhor optar pelo parcelamento sem desconto oferecido pelo município.” Para ele, nessa opção, o contribuinte vai pagar juro de 1,4% ao mês, menor que o cobrado pelos bancos. “Nesse caso, um prazo de 10 meses já é bem longo. Não há, portanto, por que recorrer ao financiamento.”
Para os materiais escolares, Dutra recomenda pesquisa de preço, pedido de desconto à vista e, se possível, cheque pré-datado sem juros. Se a saída for mesmo um financiamento, o cuidado é comparar condições. Nas linhas especiais para despesas de início de ano, os bancos estão cobrando juros de 2,85% a 4,5% ao mês. Essas condições são mais favoráveis que as do crédito pessoal normal em bancos, que têm taxa média de 5,27% ao mês, segundo o Procon-SP, e o cheque especial, cuja taxa média é de 8,21%.
Nas financeiras, o crédito pessoal custa, em média, 11,16%. Mas, de acordo com Dutra, o consumidor precisa estar consciente de que o custo final do empréstimo será bem maior que o juro informado pelo banco, pois é preciso considerar despesas como a TAC e o IOF. Por isso, o consumidor deve pedir ao banco que informe a taxa efetiva global, que inclui os juros mais esses encargos. Ele recomenda também que o prazo seja o menor possível, para evitar o pagamento de valor maior em juros.
A aplicação financeira é remunerada por juro menor que o cobrado em um financiamento bancário
José Dutra Vieira Sobrinho, professor
FIQUE ESPERTO
Bancos apostam que aumento do IOF não diminuirá demanda por crédito neste início de ano
O que o mercado oferece
Linhas especiais para pagamento de despesas extras, como mensalidades e materiais escolares, IPTU, IPVA e DPVAT (seguro obrigatório)
Taxas de juros
Variam entre 2,85% e 4,5% ao mês para clientes do banco e vão até 6,95% mensais para não clientes
Opções disponíveis
Estados e municípios dão descontos para pagamentos à vista e parcelam a maior parte dos tributos, o que pode sair mais barato do que tomar um empréstimo bancário
Dicas dos especialistas
Só tome empréstimo se não tiver dinheiro disponível. Aqueles que têm aplicações financeiras devem sacar os recursos, pois os rendimentos são bem menores do que os juros cobrados nos financiamentos
No caso dos materiais escolares, pesquise bastante os preços, peça descontos para pagamento à vista e veja se o cheque pré-datado pode ser uma boa opção
Fuja do cheque especial, que cobra taxas médias de 8,21% ao mês, e de empréstimos nas financeiras, que custam 11,16% mensais