28 de julho de 2010

Ortega reafirma a amizade com Lula

Os velhos amigos Luiz Inácio Lula da Silva e Daniel Ortega se encontram hoje em Brasília — agora na condição de presidentes do Brasil e da Nicarágua — para fechar acordos de cooperação e para discutir a integração regional. Em sua primeira visita ao Brasil como chefe de Estado, Ortega deve rever o processo de integração da América Latina e do Caribe, impulsionado pelas reuniões de cúpula realizadas na Costa do Sauípe (Bahia), em dezembro de 2008, e em Cancún (México), em fevereiro de 2010.

Tanto Lula como Ortega acreditam que até o momento não há condições de reconhecer o governo do presidente hondurenho, Porfirio Lobo, vencedor das polêmicas eleições realizadas em novembro do ano passado, após o golpe de estado contra Manuel Zelaya, em junho de 2009. Para os dois mandatários, Lobo deve avançar na reconciliação nacional, a fim de criar as condições para que Zelaya volte a Honduras.

No contexto interno, Ortega vive uma polêmica semelhante à de Zelaya. O nicaraguense sustenta que o povo deve decidir nas urnas, em novembro de 2011, sobre sua continuidade no poder. A reeleição é proibida pela Constituição do país, mas foi autorizada por uma questionada sentença de juízes simpatizantes do governo. Uma recente pesquisa revelou que 70% da população é contrária à sentença judicial que autorizou Ortega a tentar a reeleição.

Enquanto não se decidem sobre Honduras, Lula e Ortega devem avançar no diálogo entre o Mercosul e o Sica a partir de agosto, quando o Brasil ocupará a presidência temporária do bloco. O Brasil também está aderindo ao Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) e é membro observador do Sistema de Integração Centro-Americano (SICA) — os dois organismos já aceitaram o governo de Lobo.

Energia
No setor energético, o governo brasileiro tem oferecido a Manágua a tecnologia para produzir etanol a partir da cana-de-açúcar. Por sua vez, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) tem dado apoio financeiro a projetos, como a construção da usina hidrelétrica de Tumarín, que terá capacidade para gerar 220 megawatts e cuja obra está a cargo de uma empresa brasileira. O Brasil também colabora com a Nicarágua em programas nas áreas de agricultura, habitação, saúde e combate à fome.

O conflito entre Colômbia e Venezuela promete ocupar lugar de destaque na agenda dos líderes. Aliado de Chávez na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), Ortega acusou o presidente colombiano, Álvaro Uribe, de ameaçar a soberania de Nicarágua. Segundo o visitante, Uribe fez concessões a petrolíferas, em território nicaraguense, alegando que a Colômbia ocupa a Ilha de San Andrés, no Mar do Caribe.

Para Ortega, Uribe fez “papel de ridículo” ao levar acusações contra “o governo irmão da Venezuela” à Organização de Estados Americanos (OEA). O embaixador colombiano na OEA, Luis Alfonso Hoyos, apresentou em 21 de julho supostas provas da presença das Farc em território venezuelano e pediu uma investigação do organismo (leia abaixo).

1 - Três décadas depois…
Uma semana depois do 31° aniversário da Revolução Sandinista de 19 de julho, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, também comemora o fim de uma histórica denúncia. A procuradora-geral da Nicarágua, Ana Julia Guido, desistiu ontem de acusá-lo de liderar as tropas sandinistas no massacre de pelo menos 64 indígenas da etnia Mikito, em 1980. Ela afirmou não ter reunido provas suficientes para dizer quem deu ordens de iniciar o confronto.

Memória


Lula e Daniel Ortega são amigos de longa data, do tempo em que ambos viviam momentos decisivos em suas trajetórias políticas. O primeiro encontro ocorreu em 19 de julho de 1980, em Manágua, nas comemorações pelo primeiro aniversário da revolução sandinista. Àquela altura, o Partido dos Trabalhadores acabava de ser fundado, e seu presidente e inspirador despontava como a nova estrela da esquerda brasileira, ainda às voltas com o epílogo do regime militar.

De barba longa e cerrada, quase sempre usando camisetas e bonés de sindicalista, Lula via nos “filhos de Sandino” um referencial mais atual e menos problemático do que o regime cubano, até pela associação deste com a hoje finada União Soviética e com o rótulo de “comunista” — tudo aquilo de que o PT se esforçava por distanciar-se.

Os sandinistas deixaram o poder em 1990, derrotados depois de promoverem a primeira eleição presidencial livre da história nicaraguense — meses depois de o PT ser derrotado na primeira eleição presidencial direta desde 1960. Lula e Ortega se reencontram exibindo, cada qual à sua maneira, um figurino “paz e amor”, em que “revolução” deu lugar a “políticas sociais” e o romantismo da guerrilha perdeu-se no cotidiano nada romântico da política institucional.

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