6 de abril de 2010

Defesa da Chesf une adversários políticos

A sede da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) foi abraçada ontem, no Recife, por centenas de pessoas em um ato organizado por funcionários da empresa, mas protagonizado por políticos de vários partidos. De mãos dadas, representantes do PT, PSDB, DEM, PV e PMDB protestaram contra o plano do governo federal de reestruturar a Eletrobras (controladora da Chesf) e transformá-la na "Petrobras do setor elétrico".

Os manifestantes reclamam que a transformação da Eletrobras em um grande conglomerado empresarial, como quer o governo, resultará na centralização das decisões de todas as subsidiárias do grupo (Chesf, Eletronorte, Eletronuclear, Eletrosul, Furnas e CGTEE). Com essa centralização, sustentam, a Chesf, que é uma das maiores empresas do Nordeste, perderia autonomia e acabaria esvaziada, assim como ocorreu com a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Os protestos contra a reestruturação ganharam espaço na imprensa pernambucana, quando o nome da estatal foi alterado, passando a Eletrobras-Chesf. Com as críticas se avolumando e as eleições se aproximando, o simbólico abraço na estatal ganhou notoriedade e levou adversários políticos históricos a dividirem o palanque "em nome da Chesf e do Nordeste".

No PT, o líder do partido na Câmara, Fernando Ferro, afirmou que o atual processo de reestruturação da Eletrobras esconde muitos "interesses de controle gerencial e político da empresa". Ele aproveitou o palanque para alfinetar integrantes do PSDB e do DEM presentes, dizendo "que muitos ali defenderam, no passado, a privatização da Eletrobras".

Apesar da provocação, representantes de PSDB e DEM fizeram discursos acalorados em favor do fortalecimento da estatal. O deputado federal e vice-presidente do DEM, André de Paula, afirmou que a reestruturação da Eletrobras é um "golpe mortal" contra a Chesf. Ele argumentou que a centralização das decisões no Rio de Janeiro, onde fica a sede da Eletrobras, irá tirar o foco da empresa sobre as necessidades do Nordeste.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), não compareceu ao evento. Ainda sem uma posição definida sobre a questão, ele pretende organizar, na próxima semana, uma reunião com o recém-empossado ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, para tratar do assunto Chesf. "A ideia é que outros governadores do Nordeste também participem", informou o líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco, Isaltino Nascimento (PT).

A falta de informações da qual sofre Campos é comum a boa parte dos políticos que abraçaram ontem a sede da Chesf. Apesar da disposição e o espírito regionalista demonstrados ao microfone, poucos souberam explicar com alguma segurança os principais pontos da reestruturação da Eletrobras, bem como os reais riscos que correm tanto a Chesf quanto a economia do Nordeste. A principal justificativa utilizada para a desinformação foi a "falta de transparência" da estatal.

De acordo com o superintendente de coordenação-geral da presidência da Eletrobras, Luiz Augusto Figueira, as críticas sobre o esvaziamento da Chesf não se sustentam. Ele explicou que a empresa continuará a operar normalmente, com todos os funcionários e corpo diretivo, porém passará a ser administrada dentro de "uma nova diretriz de gestão".

Entre as principais mudanças está a que proíbe as subsidiárias de participarem das chamadas Sociedades de Propósito Específico (SPEs), que são consórcios formados com empresas privadas para a disputa de licitações. Quando houver a necessidade de formação de consórcio, somente a holding (Eletrobras) é que poderá participar. Essa era uma das principais queixas dos parlamentares pernambucanos, que apontavam a exclusividade da Eletrobras nas SPEs como uma forma de tirar autonomia da Chesf. "Isso não faz sentido, pois a Eletrobras só irá participar dos leilões. Ganhando, repassará a execução das obras para as subsidiárias", explicou Figueira.

A mudança no nome da Chesf também deu margem a queixas. Segundo o superintendente, trata-se apenas de um reposicionamento visando a internacionalização da Eletrobras. A mesma justificativa foi dada para a retirada do acento agudo no nome da estatal elétrica, assim como ocorreu com a Petrobras há alguns anos.

0 comentários to “Defesa da Chesf une adversários políticos”

Postar um comentário

 

Blog Da Kika Copyright © 2011 -- Template created by Kika Martins -- Powered by Blogger