5 de dezembro de 2009

Kassab tem culpa nas 8 mortes por enchetes em São Paulo



As tragédias noticiadas logo após a queda de temporais em São Paulo não têm causas apenas meteorológicas. Quem prestar mais atenção no noticiário chegará à conclusão desse óbvio ululante. De que morrem as pessoas quando ocorrem tais precipitações? Quase todas são soterradas por deslizamentos de morros. Por que os morros deslizam? Porque a vegetação que impede essa ocorrência foi arrancada para neles se implantarem favelas em áreas de risco. Os pobres só constroem seus barracos em encostas de morro, arriscando a própria vida e a da família, porque não têm onde morar num país com um altíssimo déficit habitacional e sem nenhuma política oficial competente o suficiente para tornar possível o acesso de quem tem renda baixa à miragem improvável da casa própria. As autoridades identificam as áreas de risco, mas não conseguem impedir que os sem-teto nelas improvisem moradias precárias, mas que abriguem a família quando os temporais não as soterram. Os governos (municipal, estadual ou federal), que anunciam soluções tópicas e parciais para a falta de moradia em vésperas de eleições, tentando impressionar os incautos, são também incapazes de evitar a ocupação desregrada de encostas e mananciais. E os políticos demagogos fazem vista grossa para a favelização ao arrepio da lei para arrebanhar votos.

Não é, portanto, a precipitação pluvial incomum numa certa hora a única causa de tragédias como as registradas no fim da tarde de anteontem em São Paulo (similares a outras em grandes cidades brasileiras). Mas o pretexto esperto para que os verdadeiros responsáveis se protejam no anonimato sob a cortina de água caindo do céu.

A mesma coisa vale para outras consequências desastrosas de uma tromba-d’água na rotina de uma cidade das dimensões desta. Anteontem o congestionamento atingiu 220 quilômetros, enervando o cidadão paulistano no trânsito no qual ficou parado horas. Isso impediu que trabalhadores tivessem sua cota já pequena de repouso (muitos deles se atrasaram no trabalho) e que doentes em ambulâncias presas no caos pudessem ser socorridos. A chuva alaga as ruas asfaltadas, mas não impede que os guardas acorram aos pontos críticos para tentar organizar o fluxo do tráfego. E anteontem, à tardinha, não foi visto um grande número deles fazendo seu trabalho normal, assim como não se tem notícia de equipes técnicas consertando sinais luminosos que pararam de funcionar por causa do dilúvio.

Só há alagamento quando chove muito e anteontem, segundo as autoridades correram a informar, caíram 25% das chuvas previstas para um mês inteiro. Está certo. No entanto, isso também ocorre porque as ruas estão mais esburacadas do que deveriam estar e as bocas de lobo entupidas pelo lixo não recolhido.

São Pedro pode ser responsabilizado pelo excesso de água, mas não pelo mau emprego do dinheiro dos impostos. O prefeito Kassab deve muito ao cidadão, de quem agora cobra um aumento escorchante de IPTU.

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