17 de dezembro de 2009

Esgoto da Sabesp é despejado em bairro alagado há 8 dias

O garoto de 12 anos cavalga a rédea solta um pangaré branco e marrom pelas águas imundas do rio de fezes e urina em que se transformou a rua Capachós, no Jardim Romano, zona leste de São Paulo. Sob os olhares admirados de seus amigos que não podem assim se elevar sobre as águas, ele corre até o CEU Três Pontes, logo ali.


Em poucos minutos, se joga, roupa e tudo, na piscina do escolão que custou R$ 28,4 milhões e foi inaugurado há pouco mais de ano. Em comparação com as línguas de águas negras que se veem na rua logo ao lado, a piscina até parece limpa. Mas tem um verde denso e um cheiro forte de coisa em putrefação - "é até adocicado", afirma o jovem Vitor Sousa Barreto, 18, que tirou a foto desta página.

Por volta das 16h, quando a chuva se armava, eram nove garotos nadando no CEU. Mas, na hora do almoço, a brincadeira envolveu uns 30. "Ali, é esgoto diluído", disse Vitor.

Ontem, uma comissão de deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo descobriu que, no Jardim Pantanal, desta vez, dizer que as pessoas estavam alagadas por esgoto não era figura de expressão.

A ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) da Sabesp em São Miguel ficou parada durante oito dias -desde a chuva do dia 8. Segundo o engenheiro Leonardo Citadella, gerente do departamento de esgoto da estatal da gestão José Serra (PSDB), um fluxo de 450 litros de esgoto por segundo, produzido por casas e indústrias da zona leste, deixou de receber qualquer tratamento. "O destino do esgoto acabou sendo o próprio Tietê." E, por consequência, toda a região que está alagada até hoje pelas águas do rio.

Como oito dias contêm 691.200 segundos, durante o período em que as bombas pararam, um total de 311 milhões de litros de esgoto (o equivalente a 124 piscinas olímpicas) foi despejado "in natura" no principal rio da cidade.
Para piorar, outro fluxo de esgoto, vazão de 350 litros por segundo, recebeu apenas tratamento parcial, só capaz de retirar 30% da poluição orgânica.

Bombas pifadas

Como seus vizinhos flagelados do Jardim Pantanal, a estação localizada na margem esquerda do rio Tietê viu a água subir mais de metro. A central de comando perdeu computadores, houve princípio de incêndio na telefonia (cujos fios correm junto ao chão) e, o pior, todas as bombas de esgoto foram inundadas e pifaram.

Ontem, um esquadrão de técnicos tentava pôr as máquinas para funcionar. A bióloga Lucia Maria de Campos Fragoso, que trabalha no monitoramento da biota (conjunto de bactérias e microrganismos) dos tanques de tratamento, disse aos deputados Adriano Diogo (PT) e Raul Marcelo (PSOL) que só em uma semana se irá restabelecer os níveis normais de tratamento de eflúvios que chegam à estação.

"O que estamos vendo aqui são omissões criminosas que visam a punir e a expulsar as populações pobres de São Paulo", disse Adriano Diogo.

Anteontem, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) prometeu estudar a instalação de bombas para drenar as águas que cercam o CEU que ele mesmo inaugurou. Ontem, já descartou a medida. Enquanto a dona de casa Merivania Maria Nascimento era entrevistada, um grupo saía do CEU carregando um computador. "Ah, já saquearam tudo, computadores, leite, cestas básicas. Por que a prefeitura não protege o patrimônio público?", perguntou. A prefeitura confirma apenas o furto de alimentos.

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