Meta da política externa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a conquista de um assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) será debatida amanhã em sessão da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara pelas autoridades que mais têm se empenhado no pleito: os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, da Defesa, Nelson Jobim, e de Assuntos Externos da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Mais que o prestígio internacional pretendido pelo Brasil, o que está em jogo também é a condição do país no conturbado cenário bélico composto, por um lado, pelas guerras convencionais e, de outro, pela permanente ameaçada do terrorismo internacional.
Num debate sobre o Brasil e a ameaça terrorista, travado há cerca de três meses na Comissão de Segurança da Câmara, o ministro Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Internacional (GSI) da Presidência da República, revelou uma preocupação que não tem entrado nas análises da diplomacia ou de quem defende o assento como fator de prestígio internacional. O general explicou que não há ainda indicativo de que a suposta movimentação de terroristas na região da fronteira tríplice de Foz do Iguaçu (Brasil, Argentina e Paraguai) represente alguma ameaça, mas foi taxativo quanto ao futuro: caso conquiste uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, o país deve, sim, se preocupar com a hipótese de se tornar alvo.
Por esse raciocínio, uma cadeira permanente, com poder de decisão (veto ou aval) dentro do Conselho, retiraria o Brasil da sua “eterna neutralidade”. Favorável ao pleito, o senador oposicionista Demóstenes Torres (DEM-GO),diz que o Brasil precisaria primeiro superar as deficiências de suas políticas externa e interna em questões que passam pelo “rompimento do complexo terceiromundista à melhoria de seus sistemas de segurança e defesa”.
– O Brasil tem vocação para o Primeiro Mundo, mas quer liderar quem não quer ser liderado por ele – critica Torres, ao se referir a uma suposta “insistência” da diplomacia brasileira em priorizar relações com países como Venezuela, Bolívia, Argentina ou a recente posição na crise de Honduras. Torres observa que enquanto o governo não abandonar a política externa “pouco ortodoxa”, como o apoio ao Irã – um país que desenvolve a energia nuclear para fins bélicos – ou a Venezuela, dificilmente conquistará a cadeira. Internamente, o senador acha que as declarações de autoridades como o general Jorge Félix são um sintoma do despreparo para lidar com uma eventual ameaça terrorista. – O Brasil deveria adotar o combate ostensivo ao terrorismo, mas trata a questão de forma irresponsável.
Segundo ele, as autoridades fazem vistas grossas para a presença de terroristas na região da tríplice fronteira e dá abrigo a representantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs), como o padre Olivério Medina. No plano interno, lembra o senador, a política do governo Lula ainda é marcada pelo “puritanismo” de tratar o crime organizado com políticas sociais.
– O PT e o governo já perderam as ilusões do puritanismo político e econômico. Mas ainda falta o da segurança – cutuca, ao defender leis e ações mais duras de enfrentamento à criminalidade, fatores essenciais, segundo ele, para poder sonhar com uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
Membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) acha que o assento não é crucial, mas deve ser conquistado mais pela percepção externa sobre o papel do Brasil num novo cenário internacional do que pelo empenho das instituições.
– O Brasil não é mais Terceiro Mundo. O papel de bom moço ficou com a imagem do país do futebol e do carnaval. Já perdemos a neutralidade – avalia o deputado. Ibsen Pinheiro acha que o avanço em direção ao clube dos desenvolvidos é consequência da presença comercial do país no mundo. – Isso nos onera. Não é opção. A cadeira no Conselho será um reconhecimento.