Em entrevista à CNN, primeiro-ministro diz que não gosta de seu cargo
Imbatível em matéria de comentários infelizes, o extravagante premier italiano, Sílvio Berlusconi, magnata da mídia que controla quase a metade dos canais de TV italianos, nunca cometeu uma gafe sequer. Pelo menos é o que ele sustentou durante uma entrevista concedia à CNN divulgada ontem, acrescentando que “todas (as suas supostas gafes) foram inventadas pelos jornais”.
Para citar algumas de suas pérolas, por ele classificadas como “inofensivas” ou “simples mal-entendidos”, Berlusconi lembrou de quando chamou, em duas ocasiões, o presidente norte-americano, Barack Obama, de “bronzeado”; e também de quando sussurou ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, durante um encontro bilateral, que teria “lhe dado sua mulher”, numa alusão pretensamente bem-humorada à nacionalidade italiana da primeira dama francesa, Carla Bruni.
Ao contrário do que seu comportamento poderia sugerir a pessoas menos familiarizadas com a política na Itália, Berlusconi disse que sempre pensa antes agir: – Eu conto histórias, eu conto piadas. Eu sempre conto anedotas que podem ser ouvidas por qualquer pessoa. Tenho sempre consciência daquilo que estou falando.
Segundo o premier, suas supostas gafes, como por exemplo, quando deixou a chanceler alemã Angela Merkel esperando para cumprimentá-lo à beira do Reno enquanto ele terminava uma conversa ao celular, ou quando berrou no ouvido da Rainha Elizabeth durante uma sessão de fotos (“Obama, aqui é Berlusconi!”), para chamar a atenção do líder norte-americano, foram exageradas pela imprensa.
Sacrifício Além disso, Berlusconi revelou à CNN que não gosta de ocupar o cargo de primeiro-ministro da Itália, e que o faz apenas pelo sentido de “dever” e “sacrifício”.
– Faço o que faço com um certo sacrifício – disse, descrevendo-se como “o único líder capaz de manter unidos os partidos de centro-direita” do país.
– É uma missão difícil e de grande responsabilidade, a de liderar o governo de um país como a Itália.
Quanto aos escândalos em que se viu recentemente envolvido, acusado de participar de orgias com a presença de prostitutas e pessoas consumindo drogas, Berlusconi mais uma vez responsabilizou o “jornalismo de sarjeta” e considerou que tudo é “invenção da imprensa”.
Mas as confusões continuam.
Na terça-feira, o premier provocou a ira de milhares de italianas ao ter dito, durante um programa de TV, que a senadora de esquerda, Rosy Bindi seria “mais bonita do que inteligente”, numa insinuação deselegante tanto à sua aparência como ao seu cérebro. Cerca de 97 mil mulheres assinaram o manifesto Mulheres ofendidas pelo primeiro-ministro, em desagravo à senadora.
– Alguém diga a Berlusconi que ele não é nenhum George Clooney – revidou outra parlamentar de centro, Patrizia Bugnano, chamando o premier de “chauvinista”.