Sentindo-se a cada dia mais acuado pela cúpula do PSDB, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, viu uma janela de oportunidade na ofensiva do presidente do Democratas, Rodrigo Maia, no sentido de que a oposição antecipe a definição de seu candidato em 2010. Ontem, Aécio almoçou com o deputado e reafirmou que se os tucanos não se definirem até o final do ano, a partir de janeiro vai tratar da candidatura ao Senado.
Os Maias sempre foram ligados a José Serra, governador de São Paulo e o mais provável candidato do PSDB a presidente. No entanto, Rodrigo Maia tem manifestado simpatia pelo nome de Aécio. Nisso, se contrapõe ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que tem exercido uma espécie de "poder paralelo" no Democratas, como um dos principais aliados de Serra no DEM.
Na conversa que teve com Rodrigo, o governador de Minas repetiu o que já teria dito num jantar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do PSDB, Sérgio Guerra: só tem condições de "agregar" apoios, se for escolhido candidato até o final do ano. Se o processo passar para janeiro, passará a cuidar de sua candidatura ao Senado.
Aécio chegou a Brasília na noite de anteontem, para um jantar organizado pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia, que é mineira. Antes de viajar, telefonou para Rodrigo marcando a conversa. Mas o governador mineiro também teve conversas com líderes tucanos no Congresso.
Nas conversas que teve além do almoço com o presidente do Democratas, Aécio voltou a descartar a hipótese de ser candidato a vice-presidente numa chapa encabeçada por Serra, que é articulada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Chegou a comentar que não vai para as eleições na "garupa" de ninguém.
FHC, no entanto, ainda não desistiu de atrai-lo para compor a chapa com Serra. Em conversas com tucanos, FHC chegou a manifestar otimismo em relação à decisão a ser tomada por Aécio. Para o ex-presidente, segundo interlocutores no PSDB, o processo de convicção de Aécio será demorado, mas terá sucesso.
O deputado Rodrigo Maia disse que não há divergência no Democratas em relação à aliança com o PSDB. Mas ressalta que a conjuntura atual "é muito diferente" daquela de quatro meses atrás, quando havia até expectativa de crescimento zero da economia em 2010. Além disso, argumenta que Lula antecipou o calendário eleitoral e que a oposição precisa adequar seu cronograma.
"Por que não posso ter opinião de conjuntura que seja diferente?", questiona Maia. Na presidência do DEM, o deputado lida diariamente com correligionários que pressionam por definição rápida em função das alianças regionais, mas também, segundo apurou o Valor, com deputados que preferem que o partido não faça aliança para não terem de se contrapor a Lula.
De acordo com pesquisa da consultoria Arko Advice, a maioria do do DEM e do PPS , que integram a oposição juntos com o PSDB, prefere Serra a Aécio. A pesquisa ouviu 61 parlamentares. Desse total, 57% disseram que o candidato deve ser Serra, enquanto 32 % declararam preferência por Aécio. Especificamente no DEM, 55 % se manifestaram favoráveis à candidatura do paulista. No PPS, a opção por Serra chega a dois terços do partido. A pesquisa foi realizada entre 20 e 22 de outubro. Foram entrevistados 49 dos 56 deputados do DEM, e 12 dos 13 do PPS.