Altemir Gregolin almoçava solitariamente ontem por volta das 14h30, no Kibe House, um restaurante de comida por quilo que funciona no Conjunto Nacional, shopping localizado na área mais central de Brasília, a cerca de um quilômetro da Esplanada dos Ministérios. Ao vê-lo, o filho do dono do restaurante dirigiu-se até a mesa onde estava e o cumprimentou. Gregolin respondeu: "Você está falando com o ministro da Pesca do Brasil."
"Eu sei", respondeu o rapaz. "Não", retrucou Gregolin. "Eu era secretário especial da Pesca. Agora, sou ministro da Pesca. Você é o primeiro a saber, você é o primeiro a falar com o ministro da Pesca".
Imediatamente, Gregolin levantou-se, foi até o caixa e pagou a refeição. Na verdade, meia refeição, porque deixou o prato pela metade: um pedaço de bisteca de porco, outro de pão sírio e meio copo de suco de laranja. Saiu rapidamente do restaurante. Não havia nenhum pescado no prato.
O rapaz ainda disse: "Pai, sabe o Gregolin, de Santa Catarina? Fui falar com ele e me disse que agora é ministro da Pesca. Mas eu achava que ele já era ministro." O pai olhou para o filho e não fez nenhum comentário. Foi cuidar das fichas que estavam no caixa.
O que levou Gregolin a anunciar ali mesmo que era o ministro da Pesca foi uma decisão tomada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado no momento em que ele almoçava - a de aceitar a constitucionalidade da medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que transforma a Secretaria da Pesca em ministério.
Desde abril de 2006, Gregolin era secretário especial da Pesca. Substituiu o então titular - que havia tentado ser ministro, mas foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) -, José Fritsch, que largou o posto para se candidatar ao governo de Santa Catarina pelo PT. Fritsch foi derrotado por Luiz Henrique da Silveira, do PMDB.
Gregolin era o secretário executivo. Foi promovido a um mandato-tampão e por lá ficou, até receber a notícia de que será ministro.
De todos os ministérios criados por Lula, o de Gregolin é um dos mais desconhecidos. Há menos de dois anos, ao aparecer na TV para um programa em rede obrigatória, iniciou assim a sua fala: "Prazer, eu sou Altemir Gregolin."
Para que alcance mesmo o status de ministro, porém, o plenário do Senado terá de aprovar o projeto que passou ontem pela CCJ. A oposição promete fazer barulho e atrapalhar a alegria do quase ministro. Gregolin teve o nome envolvido no escândalo dos cartões corporativos, em 2007.