9 de junho de 2009

Na ausência de Serra, DEM e PSDB aprovam BC


No dia em que o ministro da Fazenda Guido Mantega admitiu oficialmente que o Brasil está em recessão econômica, lideranças históricas do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, eximiram o governo Luiz Inácio Lula da Silva da responsabilidade pela retração na economia registrada nos últimos dois trimestres. De acordo com FHC, dificilmente Lula poderia ter feito algo para evitar a queda na atividade econômica. "Presidentes não podem fazer tudo, eu sei como é, já passei por outras crises e não serei eu quem vai culpar o governo dele", afirmou o presidente, após uma palestra sobre a crise econômica mundial ministrada pelo ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, e pelo ex-economista chefe do FMI, Kenneth Rogoff.

A afirmação de FHC e a ausência absoluta de críticas à equipe econômica de Lula por parte de Malan mostram que a visão econômica de ambos e a do principal pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o governador de São Paulo, José Serra, seguem caminhos distintos. Serra vem, desde o início do ano, fazendo críticas pesadas à política monetária adotada pelo Banco Central. Segundo ele, o país não precisaria se submeter aos efeitos da crise que está enfrentando no momento caso o BC tivesse reduzido com mais intensidade e rapidez a taxa de juros.

Em diversas ocasiões, Serra atribuiu a razão para tal lentidão à falta de capacidade dos economistas que estão comandando o Banco Central brasileiro. O governador paulista também comparou a política monetária do BC ao esquema fraudulento montado pelo imigrante italiano Carlo Ponzi nos Estados Unidos na década de 20.

Durante o evento organizado pela Fundação Liberdade e Cidadania, ligada ao DEM, em nenhum momento a política monetária foi criticada. Ao contrário, Malan chegou a elogiar a responsabilidade e o equilíbrio do presidente do Banco Central, Henrique Meireles. O evento contou com a presença de lideranças dos dois partidos, como o presidente do DEM, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), o líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (DEM-GO), o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, e uma série de outros parlamentares dos dois partidos. A ausência mais sentida foi a do governador paulista José Serra, que tinha presença confirmada pela organização do evento horas antes de seu início.

A ausência de críticas à política monetária do Banco Central explicitou que a oposição terá dificuldades em colocar a economia como foco principal do discurso contra o governo Lula nas eleições de 2010. Rodrigo Maia afirmou que o DEM tem uma visão divergente da de Serra a respeito do tema. "Nós não temos críticas ao Banco Central, defendemos sua independência", afirmou o presidente do DEM. O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) também não colocou a questão monetária como ponto principal nas críticas ao governo federal.

Com o arrefecimento da crise e quase certa redução na taxa de juros, que deve cair mais um ponto percentual na próxima reunião do Copom, a tendência é de que o governador de São Paulo continue cada vez mais isolado nas críticas à política econômica federal.

Sem José Serra, as críticas ao governo federal ficaram concentradas na questão fiscal. Tanto FHC quanto Malan criticaram o fato de os custos correntes da união terem crescido quase 20% no primeiro trimestre enquanto a receita vem caindo. "Esse é um ponto preocupante porque isso vai se reverter em aumento de impostos, aumento de juros ou inflação", afirmou Fernando Henrique, que acusou o presidente Lula de ter "ligado o piloto automático" e estar apenas fazendo campanha para Dilma Rousseff.

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