Há vinte anos, quando um trabalhador despencava da construção de um edifício, o máximo que ocorria era a enorme confusão no trânsito. Os operários não dispunham de proteção de qualquer espécie e, invariavelmente, suas famílias ficavam desamparadas. Naquela época, porém, houve dois fatos em Belo Horizonte que resultaram dessa pavorosa relação de trabalho. Uma foi a assustadora greve dos pedreiros e serventes, marcada por depredações em toda a cidade e que exigiu a mediação de um líder sindical de São Paulo, o então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.
A outra foi a iniciativa do corretor de seguros Alaor Silva, que consistiu na criação de um seguro de vida popular, com o objetivo de amparar as famílias dos trabalhadores, em caso de morte e acidentes. Com o pagamento de apenas R$ 10,00 por mês, a construtora poderia proteger cada um dos seus empregados com uma apólice de R$ 20 mil, dinheiro suficiente, na época, para se adquirir uma casa para a família enlutada. "As viúvas recebiam as indenizações em apenas 24 horas após do falecimento do marido, numa rapidez inédita no mundo", recorda o corretor.
Naquele primeiro ano, as construtoras da capital mineira inscreveram oito mil trabalhadores. Hoje, 20 anos depois, há quase 700 mil protegidos por aquela pequena idéia que ganhou o nome de Plano de Amparo Social e Imediato (Pasi).
A iniciativa atraiu o interesse da Mapfre, que incluiu o produto em seu portfólio e passou a assumir a garantia pelas indenizações não só em Minas, mas em todos os estados onde atua, além de estender para outros setores e contabilizar mais de 20 mil empresas conveniadas, como explica Bento Zanzini, diretor vice-presidente da área de vida e previdência da seguradora espanhola: "O Pasi é um produto de sucesso, pois atende a um custo muito baixo trabalhadores da construção civil, postos de gasolina, entidades de classe de sindicato que dificilmente conseguem encontrar seguro com cobertura adequada a seu perfil."
O potencial de negócio do Pais levou Alaor Silva a criar Asteca Desenvolvimento de Seguros, companhia que gerencia as atividades de mais de três mil corretores autônomos pelo País. Em 20 anos, as indenizações totalizaram R$ 80 milhões, que foram pagas a um tipo de gente que, anteriormente, nada recebia. Há 13 mil convênios vigentes, assinados com mais de 300 sindicatos brasileiros. A receita da Asteca alcançou R$36 milhões no ano passado e se espera crescimento de 15% em 2009.
A expectativa não é apropriada para uma época de crise, mas decorre do lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, por meio do qual o governo federal pretende construir um milhão de casas. De acordo com estimativas tradicionais da construção civil, cada nova casa demanda pelo menos um novo emprego.
Silva se mostra feliz com o sucesso da sua idéia não apenas por conta dos resultados comerciais, mas, sobretudo pela extensão do benefício a milhões de brasileiros, diz o corretor, que hoje tem seu negócio estabelecido num prédio de quase dois mil metros de área construída em Belo Horizonte. "As famílias passaram a receber seguros e também se criou um novo mercado para as empresas seguradoras, do qual a sua firma detém cerca de 25% do total. Temos menos de três milhões de trabalhadores segurados, num universo de 33 milhões de pessoas com carteira assinada", analisa.
Para Zanzini, da Mapfre, a expectativa também é de novos negócios na esteira do PAC da habitação do governo Lula. "Na medida em que o governo incentiva a construção civil, setor pioneiro do Pasi, evidentemente ampliam-se bastante os horizontes desse mercado. Novos empreendimentos vão atrais mais mão-de-obra, que por sua vez vai precisar de proteção e garantias", avalia Zanzini.
Nesses vinte anos não apenas os pedreiros e serventes da construção, mas os trabalhadores de todas as categorias foram inscritos no Pasi. As indenizações continuam sendo pagas em 24 horas, em qualquer lugar do país. Os benefícios foram aumentados com a inclusão da indenização de 50% do valor para morte da esposa e 25% em caso de morte de cada filho. Há também a indenização total para caso de acidentes de trabalho ou de doenças profissionais que impeçam o segurado de continuar trabalhando. Por fim, há a entrega de cestas básicas e cobertura de despesas funerárias para a família do segurado.
Nova parceria
A Asteca acaba de assinar acordo com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que vai recomendar o Pasi nos acordos dos seus 131 sindicatos patronais, que alcançam 140 mil empresas filiadas. A empresa também assinou contato, recentemente, com o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais, que recomendará a adoção do seguro nos acordos trabalhistas com as destilarias e usinas do estado, que têm mais de 80 mil funcionários.
Nesta semana, deverá ser assinado o acordo com a Confederação Nacional de Transportes (CNT), que aconselhará o mesmo procedimento nos acordos com mais de um milhão de motoristas, trocadores e demais funcionários de empresas de ônibus de todo o País.