2 de janeiro de 2009

Kassab fala em crise, mas terá o maior nº de secretários


Num momento em que as manchetes estão repletas de crises financeiras e violência, é especialmente importante reconhecer a criatividade de governos no combate à pobreza, doenças e a fome. O argumento não se presta apenas a nos fazer sentir um pouco melhor, e sim a confrontar uma das maiores ameaças do mundo: o pessimismo generalizado, de que os problemas atuais são grandes demais para serem resolvidos. O estudo dos sucessos nos traz o conhecimento e a confiança necessários para intensificar esforços conjuntos para resolver os grandes desafios globais de hoje.

Congratulações, em primeiro lugar, ao México, pela criação pioneira das "transferências condicionais de dinheiro" a famílias pobres. Elas habilitam e estimulam estas famílias a investir na saúde, alimentação e educação dos seus filhos. O "Programa de Oportunidades" do México, liderado pelo presidente Felipe Calderón, está sendo amplamente reproduzido em toda a América Latina. Recentemente, a pedido dos cantores Shakira e Alejandro Sanz e de um movimento social que eles dirigem, todos os líderes da América Latina se comprometeram a intensificar os programas da região para o desenvolvimento desde a tenra infância, com base nos sucessos já comprovados.


A Noruega, sob a liderança do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, mantém a sua tradição de liderança criativa ambiental e social. O governo fez uma aliança global para evitar a mortalidade materna no parto, investindo em parto seguro e na sobrevivência dos recém-nascidos. Ao mesmo tempo, a Noruega lançou um programa inovador de US$ 1 bilhão com o Brasil que visa convencer comunidades pobres na Amazônia a acabar com o desflorestamento desenfreado. Com habilidade, a Noruega desembolsa os fundos para o Brasil apenas com base no sucesso comprovado de evitar desflorestamento (na comparação com um parâmetro acertado).


A Espanha, sob a liderança do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, concedeu importante estímulo para ajudar os países pobres a atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM), ao criar um novo Fundo MDM nas Nações Unidas para promover a cooperação necessária dentro da ONU para abordar os vários desafios das metas. O governo espanhol propôs acertadamente que as reais soluções para a pobreza exigem investimentos simultâneos em saúde, educação, agricultura e infra-estrutura, e logo em seguida disponibilizou os fundos para ajudar a transformar esta visão integrada em realidade prática. O país sediará um encontro este mês para lançar um novo combate contra a fome mundial. Mais uma vez, a Espanha está propondo meios práticos e inovadores para passar da fala à ação, especificamente para ajudar os empobrecidos agricultores a obter as ferramentas, sementes e fertilizantes de que necessitam para incrementar a sua produtividade, receita e segurança alimentar.


O premiê australiano Kevin Rudd assumiu, de forma semelhante, a linha de frente da solução de problemas mundiais, ao formular um plano de ação audacioso sobre mudança climática e propor meios novos e práticos de abordar as MDM. A Austrália colocou dinheiro de verdade sobre a mesa para aumentar a produção de alimentos, nos termos em que a Espanha está propondo. O país também defende um programa de ação intensificado para as economias pobres e ambientalmente ameaçadas das ilhas da região do Pacífico.


Estes esforços foram acompanhados de ações nos países mais pobres. Maláui, o país empobrecido e sem saída para o mar, dobrou, sob a liderança do presidente Bingu wa Mutharika, a sua produção anual de alimentos desde 2005, por meio de um esforço pioneiro para ajudar agricultores mais pobres. O bem-sucedido programa está sendo copiado por toda a África.


O governo de Mali sob o presidente Amadou Toumani Touré apresentou recentemente um desafio arrojado à comunidade mundial. O país está ansioso para ampliar investimentos em agricultura, saúde, educação e infra-estrutura nas suas 1666 comunidades mais pobres. Os planos são minuciosos, cuidadosos e confiáveis, baseados em sucessos comprovados que o governo já obteve. O mundo rico prometeu ajudar Mali, que agora tomou a iniciativa com a sua criatividade.


Há inúmeros casos adicionais que podem ser mencionados. A União Européia fez uma campanha de 1 bilhão para ajudar os agricultores. A Fundação Gates, Unicef, Rotary International e muitos governos tiveram êxito em reduzir as mortes por poliomielite a um milésimo da taxa da geração anterior, levando a doença à quase erradicação. Esforços semelhantes estão sendo iniciados em muitas outras frentes - o controle de infecções por vermes e da lepra, e agora uma importante iniciativa global para reduzir as mortes por malária a praticamente zero até 2015.


Todos estes sucessos compartilham um padrão semelhante. Eles equacionam um desafio grave e bem definido, como, por exemplo, baixa produção de alimentos, ou doença específica, e se baseiam num conjunto de soluções bem definidas, como equipamento agrícola e insumos necessários aos agricultores, ou vacinações.


Projetos de pequena escala comprovam como o sucesso pode ser alcançado; o desafio passa a ser levar as soluções "à escala" em programas de âmbito nacional e até mundial. A liderança é necessária, tanto nos países necessitados como entre os ricos, para ajudar a lançar e financiar as soluções. Por fim, modestas quantias de dinheiro para a solução de problemas práticos podem fazer uma diferença histórica.


As boas notícias provam, porém, que só perderemos a batalha contra a pobreza e a miséria se desistirmos e se não conseguirmos atentar para a inteligência e a boa vontade que podem ser mobilizadas. E talvez, neste ano, os EUA poderão se juntar de novo ao esforço global com força nova e extraordinária, liderados por um jovem presidente que disse acertadamente aos americanos e ao mundo: "Sim, nós podemos". Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e diretor do Instituto Terra na Universidade Columbia.

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