4 de setembro de 2008

Emprego cresce 15% na construção e setor antecipa contratações

O aumento da oferta de emprego na construção civil reduziu o número de candidatos por vaga e levou as empresas a anteciparem contratações e ampliar suas estratégias de capacitação. Os governos, por sua vez, também estão buscando formas de possibilitar a entrada de novas pessoas no setor, investindo em cursos de qualificação voltados para desempregados e integrantes do Bolsa Família. Em São Paulo, 3 mil vagas serão abertas agora em setembro pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em parceria com o governo estadual para pessoas cadastradas no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT).

O aquecimento do setor começou há dois anos. Em 2007, foram criadas 176 mil novas vagas - o dobro da média dos anos anteriores - e que representou 11% do total de empregos formais abertos no Brasil naquele ano. Em 2008, apenas até julho, já foram 232 mil novas vagas na construção civil, alta de 15% em relação ao estoque total de empregos formais existentes no setor em dezembro do ano passado. E o ritmo de 15% foi três vezes superior ao de geração de vagas em toda a economia brasileira, que ficou em 5,4% até julho.

Antes do aquecimento do setor, a disponibilidade de mão-de-obra possibilitava às empresas recrutarem seus funcionários um mês antes do início das construções. Hoje, já há companhias iniciando o processo de contratação de pessoal com seis meses de antecedência para assegurar a disponibilidade de mão-de-obra e para dar mais tempo para a capacitação.

"A dinâmica no setor foi sempre de urgência, com pouco tempo para o preenchimento das posições, situação que era possível de ser gerenciada por conta do volume menor de obras e do número maior de profissionais disponíveis", diz Deborah Carceles, gerente de treinamento e desenvolvimento da Camargo Corrêa. Diante de um cenário mais apertado para contratação, desde o início de 2007, a empresa tem se preparado para que seis meses antes das obras ela já possa conhecer as demandas e buscar funcionários.

Na Rossi Residencial, o recrutamento de mão-de-obra, que antes de 2006 era feito até um mês antes de iniciar o serviço, também está sendo realizado seis meses antes do início da obra. A empresa costuma contratar construtoras locais menores que, por sua vez, fazem o recrutamento de pessoal. Isso, segundo o diretor de Engenharia da Rossi, Alcides Gonçalves, não significa pagar antecipadamente. "O importante é começar a obra com o contrato na mão", diz.

Essa precaução se tornou necessária pela redução da disponibilidade de trabalhadores e pelo perfil menos experiente das pessoas que buscam as vagas. Segundo Edyano Bittencourt, coordenador de operações da Delta Construções, hoje a quantidade de pessoas que pleiteiam vagas nas obras é de 30% a 40% inferior do que há dois anos.

Segundo Gonçalves, da Rossi, a procura por vagas, que já foi intensa antes de 2005, está equilibrada. "Aquele operário que tinha que fazer "bico" não existe mais, veio para a formalidade. Esse vácuo foi preenchido", diz. As empresas são unânimes em dizer que estão conseguindo preencher todas as vagas no nível operário, mesmo diante da menor oferta de trabalhadores. A necessidade de capacitação, contudo, aumentou.

Apesar da falta de experiência prática, a escolaridade das pessoas que procuram qualificação para cargos na construção civil tem aumentado, segundo o diretor do Senai de Tatuapé, na capital paulista, Carlos Eduardo Cabanas. Na década de 80, conta, as pessoas dos cursos operacionais - pedreiros, pintores etc - tinham em média 50 anos e haviam cursado até a terceira série do fundamental.

"Hoje vemos muitos trabalhadores ingressando com 30 a 35 anos de idade e com mais escolaridade", diz. Na unidade do Tatuapé, onde são oferecidos apenas cursos nessa área, 75% dos alunos hoje possuem ensino fundamental completo. "A construção civil hoje exige mais qualidade, e passou a ser mais atraente por conta do incremento do salário."

Além disso, o setor vem experimentando novas tecnologias, o que também abre espaço para a entrada de mulheres, que eram 5% nesses cursos na década de 80 e hoje representam 35% dos alunos. "Essas mudanças foram aceleradas nos últimos dois anos por conta do aumento das contratações e dos investimentos, mas é uma tendência", diz Cabana.

O período de vacas magras no setor, que caracterizou toda a década de 90, fez com que a construção civil perdesse trabalhadores para outros setores mais aquecidos. Hoje, o caminho passou a ser inverso, e depois de terem absorvido toda a mão-de-obra qualificada disponível, as construtoras passam a contratar desempregados da indústria de transformação e até do agronegócio, como cortadores de cana-de-açúcar.

Um reflexo de que tem chegado às empresas muita gente que não se encaixa no perfil desejado são os baixos números de vagas preenchidas por meio de cadastros públicos. Em São Paulo, até julho deste ano já foram oferecidas 13,6 mil vagas no cadastro estadual de emprego, número que já representa 84% das vagas oferecidas em 2007. O percentual de preenchimento, no entanto, é menor: de 20% frente a 27% no ano passado.

Juan Sanchez, coordenador do Programa Estadual de Qualificação Profissional (PEQ) da Secretaria Estadual do Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo (Sert-SP), explica que a falta de capacitação e de escolaridade compatível faz com que seja comum a secretaria preencher apenas 30% das vagas oferecidas. No caso da construção civil, esse quadro se agrava por conta do forte aumento de oferta de empregos.

Segundo Sanchez, esse percentual não significa que as vagas não estejam sendo preenchidas, já que a empresa divulga a mesma vaga em vários lugares. O quadro mostra, porém, a dificuldade que é encontrar, entre as pessoas dispostas a trabalhar nesse mercado, o perfil que as empresas precisam.

Na Rossi Residencial, o aquecimento do setor fez com que nos últimos dois anos os canteiros de obras da empresa passassem de 30 para 80, com perspectiva de chegar a 140 em 2009. Isso significa contratar mais 2,5 mil trabalhadores, duplicando o atual corpo de funcionários em operação direta.

O desafio é generalizado. Em dezembro de 2006, a Camargo Corrêa tinha 2,5 mil funcionários. Um ano depois estava com 19,4 mil, e em junho eram 30,5 mil. A tendência para 2009 é manter o ritmo elevado de contratações, assim como na construtora OAS, que está hoje com 23 mil operários, número 59% maior que no início do ano.

A Equipav Construção empregava cem pessoas no começo de 2006, e hoje está com mil funcionários, com perspectiva de chegar a 1,5 mil a 2 mil pessoas no ano que vem. "Acho que em 2009 vamos ter dificuldades para contratar", diz Labieno Mendonça, diretor-superintendente da empresa.

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