15 de julho de 2008

Passos da PF eram monitorados


Nos diálogos interceptados com autorização judicial, o banqueiro Daniel Dantas foi flagrado discutindo com Humberto José da Rocha Braz estratégias para se livrar da apuração conduzida pela Polícia Federal no inquérito da Operação Satiagraha, o que incluiu a tentativa de suborno de um delegado federal. Apontado como braço direito do dono do Opportunity, Braz estava foragido desde terça-feira da semana passada, quando foi realizada a ação policial, e se entregou espontaneamente na noite de domingo.

Um dos diálogos ocorreu em 29 de abril. Segundo o relatório policial, ao qual o Correio teve acesso, Dantas diz o seguinte a Braz: “... meio que colocou que o objetivo continua sendo o original... e quem tá responsável é esse Protógenes mesmo”, numa referência a Protógenes Queiroz, delegado que comandou a Satiagraha. A conversa ocorre três dias depois de publicada matéria na Folha de S.Paulo sobre o caso.

Na mesma conversa, segundo a interpretação da PF, Dantas autorizou Braz a procurar o delegado Protógenes: “Eu sei, mas minha pergunta é: se dá... se a gente já sabe quem é o endereço... se não podia entrar em contato?”, falou o banqueiro. Braz respondeu: “Mas o problema é (que) já entrou e ele disse que não, né?”. Foi então que Dantas, segundo a polícia, teria sinalizado com a propina: “Mas não entrou com... não?”.

A partir daí, de acordo com a PF, se desenrolou a trama do suborno. Os investigadores, com autorização judicial, deixaram o plano correr e escalaram o delegado Victor Hugo Pereira para servir de isca. Num diálogo, o policial discutiu com Hugo Chicaroni, ligado a Dantas e preso desde a terça-feira, os valores do pagamento: “Ele (Humberto) falou: eu tenho 500 mil dólares para tratar desde assunto”. Em outro diálogo, eles chegam a falar em até US$ 1 milhão. No total, a PF apreendeu com Chicaroni R$ 1,2 milhão.

Espionagem
Um outro trecho do inquérito policial afirma que Braz, ex-presidente da BT Participações, controladora da Brasil Telecom, seria uma das pessoas contratadas pelo dono do Opportunity para “trabalhos de espionagem, tráfico de influência, ‘plantio’ de notícias falsas na mídia e elaboração de falso dossiê”. O braço direito de Dantas é relacionado pela PF ao escândalo de espionagem empresarial Kroll-Brasil Telecom.

Braz também foi flagrado em conversas suspeitas com o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh. Em 13 de março, segundo a PF, os dois discutiram um acerto que estaria em curso entre o Opportunity e o CitiBank em torno da fusão da Brasil Telecom com a Oi. Durante o bate-papo, segundo o inquérito policial, Greenhalgh disse a Braz que tentaria se reunir com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o que, segundo os investigadores, estaria relacionado à transação empresarial. Advogados de Braz e Chicaroni entraram ontem no Supremo Tribunal Federal com pedido de habeas corpus para os dois clientes.


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