18 de julho de 2008

Força-tarefa contra o banqueiro


A Polícia Federal criou uma força-tarefa para ampliar o cerco a Daniel Dantas. Foram abertas duas novas frentes, além do inquérito dirigido pelo delegado Protógenes Queiroz, que encerra hoje os trabalhos. Dantas livrou-se de nova prisão: juíza federal negou pedido sobre o caso Kroll.

O diretor-geral interino da Polícia Federal, Romero Menezes, determinou, ontem, a formação de força-tarefa interna para ampliar as investigações desencadeadas pela Operação Satiagraha e evitar que o banqueiro Daniel Dantas acabe tirando vantagem da crise que rachou, de alto abaixo, a polícia e o judiciário.

– O caso é prioridade – disse Menezes, que disponibilizou para os delegados Ricardo Saadi e Érika Mialik Marena – responsáveis pelos inquéritos em andamento – policiais e recursos financeiros necessários para para garantir a celeridade e a eficácia da investigação.

A nova ordem é reforçar o aparato de investigação com o que tiver de melhor no órgão. Menezes disse que as atividades supostamente ilícitas do banqueiro Daniel Dantas e suas implicações no mercado financeiro receberão o tratamento especial, adequado às grandes operações de investigação e, no final, a conclusão será usada como referência.

– O caso vai gerar padrão – afirmou o delegado.

O que for necessário

Diante da pergunta sobre a quantidade de recursos que serão colocados à disposição da nova equipe, o diretor foi lacônico, mas explícito:

– O que for necessário – garantiu.

Além do inquérito em que Daniel Dantas é acusado de lavagem e corrupção – cuja denúncia já foi aceita pelo juiz da 6ª Vara, Fausto de Sanctis – presidido pelo delegado Protógenes Queiroz, a Polícia Federal abriu duas novas frentes de investigação. Parte do material está relacionada às transcrições de grampos autorizados pela Justiça Federal em torno da turma de Daniel Dantas e que durou cerca de um ano e meio. O restante sairá de dezenas de HDs e documentos apreendidos nos 58 endereços de pessoas que gravitam em torno do banqueiro. Por conta da crise, os malotes lacrados ainda não foram abertos, mas sabe-se que muitos documentos importantes para as investigações havia sido listados e foram encontrados exatamente onde a polícia suspeitava que estavam. São papéis que podem ligar as atividades do banqueiro a outros personagens do esquema no Congresso e no Executivo.

Os dois inquéritos serão tocados agora pelos delegados Érika Marena e Ricardo Saadi, ambos especialistas em investigações financeiras.As investigações apontam fortes indícios para acusar Daniel Dantas por gestão fraudulenta à frente do Grupo Opportunity. O delegado Saadi chefiava a Divisão de Crimes Financeiro (Defin) em São Paulo e comandou várias investigações do gênero, entre elas a que trata das ramificações no Brasil dos delitos praticados pela direção do banco suíço UBS. Há suspeitas de que o caso UBS possa estar relacionado a algumas atividades do Grupo Opportunity em paraísos fiscais.

Chance de ouro

Apesar da crise gerada pelo delegado Protógenes Queiroz, a Polícia Federal enxerga no resultado das investigações em torno do Grupo Opportunity uma oportunidade de ouro para depurar o mercado financeiro. O objetivo é atacar as relações promíscuas de segmentos da economia que se utilizam do tráfico de influência para fazer negócios. A Operação Satiagraha, segundo avaliação da polícia, chegou a uma parte da rede que usa atividades lícitas como fachada para desviar recursos públicos e lavá-los no exterior com a camuflagem de investimentos normais.

O relatório policial sobre o primeiro inquérito concluído será entregue hoje por Protógenes Queiroz à Justiça Federal. É nele que o delegado deverá amparar as acusações contra todos os envolvidos. Há quatro anos investigando as atividades de Daniel Dantas, Queiroz fez tudo certo, mas se perdeu quando a Satiagraha precisava ser fechada. Permitiu que a operação vazasse, colocou sob suspeita a direção do órgão ao se recusar a abrir informações necessárias para o planejamento das prisões e cumprimento de mandados de busca. Acabou detonando uma crise que rachou a polícia e o judiciário. Ao recorrer ao apoio da Agência Brasileira de Informações (Abin) à revelia da direção do órgão ao qual é subordinado, Queiroz provocou um visível desconforto entre o ex-diretor da Polícia Federal Paulo Lacerda (hoje chefe da Abin) e o atual, Luiz Fernando Corrêa. Por tabela, alimentou as divergências entre os grupos que integram o entorno dos dois diretores. Nos bastidores da Polícia Federal circulava ontem o boato de que ex-dirigentes estariam se aproveitando da crise para conspirar contra a gestão de Corrêa. O que está em jogo, no entanto, é algo mais importante: Lacerda e Corrêa são responsáveis pelo que há de mais sensível na República nas áreas de segurança e informação e o que menos interessa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva é vê-los numa contenda.

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