4 de julho de 2008

BC vai tentar reter funcionários com reajustes de 50%


O governo vai editar medida provisória (MP) para tentar estancar a saída de funcionários do Banco Central. A esperança é que reajustes superiores a 50% retenham os novos talentos, que estão fazendo outros concursos em busca de rendimentos melhores. Alguns dos servidores mais antigos, porém, estão só esperando o aumento de salário para deixar a casa levando aposentadorias mais alentadas.

As estimativas são de que, nos próximos três anos, 1.773 funcionários do BC ganhem o direito de se aposentar, o que representa 34,5% do quadro de pessoal, segundo cálculos do sindicato da instituição. Nesse contingente, estão os funcionários que prestaram concursos públicos no fim da década de 1970, incluindo nomes como o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, e o gerente do projeto de modernização das normas cambiais, Geraldo Magela Siqueira, um dos poucos funcionários que têm na memória a evolução das regras cambiais nas últimas décadas.

O BC ficou sem realizar grandes concursos entre 1977 e 1990, o que criou um vácuo de 13 anos entre as gerações de funcionários. Antecipando um esvaziamento nos seus quadros, o BC acelerou a realização de concursos nos anos 1990. Mas, como os salários pagos pelo BC caíram em relação a outras carreiras do governo, os novos contratados mostraram-se menos fiéis.

Na nova geração, tornou-se comum os chamados "concurseiros" - pessoas que, mal tomam posse no BC, começam a estudar para outros concursos que oferecem salários maiores. De 2007 para cá, 58 funcionários do BC pediram desligamento dos quadros. Desse total, 72,4% tinham menos de cinco anos de trabalho, e 89% estavam há menos de dez anos na casa. De cada 20 admitidos em concursos públicos recentes, um já deixou o BC.

Considerado um centro de excelência no serviço público, tradicionalmente o BC perdeu funcionários para a iniciativa privada e para o próprio governo. Um caso recente foi a perda para o Citibank de Marcelo Kfoury Muinhos, que foi chefe do Departamento de Pesquisa Econômica (Depep), que tem papel central no sistema de metas de inflação, preparando modelos matemáticos e estatísticos. Alguns nomes conhecidos das fileiras do BC são o ex-presidente da instituição e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola; o ex-ministro da Casa Civil no governo FHC, Pedro Parente; e o ex-secretário do Tesouro e hoje diretor de finanças da Vale, Fábio Barbosa, ainda um funcionário licenciado do BC.

Nos últimos anos, em particular a partir de 2006, os salários do BC passaram a ficar abaixo de outras carreiras de Estado semelhantes. No início de carreira, um analista do BC ganha R$ 7.082,40, bem menos que os R$ 10.155,32 recebidos por um auditor da Receita Federal. A MP pretende elevar, até 2010, o salário inicial do BC para R$ 12,9 mil, e a remuneração máxima para R$ 18,5 mil. Anteontem, o BC assinou um acordo no Ministério do Planejamento e, nos próximos dias, deverá sair uma MP. Os funcionários do BC, ao lado de servidores de órgãos como o Itamaraty, passam oficialmente a serem consideradas membros de carreiras típicas de Estado.

Com o aumento, porém, funcionários mais antigos devem pedir aposentadoria. "Nossa estimativa é que 60% dos que ganharem a condição de se aposentar acabem se aposentando de fato", disse Marcelo Stalin, do sindicato dos funcionários do BC.

O BC também deve agir para acelerar a reposição de funcionários. "Estamos, em conjunto com o Planejamento, elaborando um plano plurianual de concursos públicos, de forma a permitir uma reposição das perdas por aposentadorias", disse o diretor de administração do BC, Anthero Meirelles. "Existe ainda um ambicioso programa de formação gerencial, que visa formar servidores aptos a suceder aqueles que vierem a se aposentar."

Apesar da perda de funcionários, o BC acha que foi mantida a excelência da mão-de-obra. Hoje, existem 444 servidores com mestrado, 89 com doutorado e 2 com pós-doutorado, o que equivale a 11% do pessoal do banco. Os funcionários do BC assumiram posições mais importantes nos últimos anos. Eles ocupam cinco dos oito assentos na diretoria colegiada, formando a maioria nas reuniões do Copom.

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