16 de junho de 2008

RITMO DE CONSUMO VIGOROSO PUXA INDÚSTRIA DO NORDESTE


A pequena Horizonte, com 48 mil habitantes e situada a 42 quilômetros da capital Fortaleza, é considerada um dos pólos industriais do Ceará por reunir cerca de três dezenas de empresas de setores como têxtil, calçadista e granito. No dia 30 do mês passado, a cidade recebeu a visita dos empresários Gilberto e Adriano Schincariol e do executivo Fernando Terni e ganhou mais uma fábrica. Dessa vez, de cerveja.

A Schincariol investiu R$ 160 milhões na nova unidade, que gerou 200 empregos diretos e tem capacidade para dois milhões de hectolitros/ano. Segundo José Augusto Schincariol, membro do conselho de administração, a ampliação é reflexo do crescimento da economia local. "Temos que estar próximos do mercado. São as unidades do Nordeste que atendem a região. O Brasil é muito grande", afirmou o empresário ao Valor.

A fabricante de cerveja é uma das empresas que elevou a produção no Nordeste, apostando na recuperação de uma das regiões mais pobres do país. Com a maturação de investimentos, a produção industrial do Nordeste cresceu 6,7% de janeiro a abril em relação a igual período do ano anterior, percentual próximo aos 7,3% registrados no país, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2007 ante 2006, as empresas da região produziram apenas 3% a mais, metade da média nacional.

Os reajustes do salário mínimo, os programas de assistência social e a expansão do crédito aumentaram o poder de consumo dos nordestinos, o que se reflete no comércio. Em 2007 em relação a 2006, as vendas do varejo brasileiro cresceram 9,6%. De acordo com o IBGE, as variações chegaram a 9,8%, 10% e 10,6% em Pernambuco, Bahia e Ceará, respectivamente. A indústria local, no entanto, não acompanhava o ritmo até o ano passado e o aumento do consumo era atendido principalmente por outras regiões e por importados.

O setor de alimentos e bebidas foi responsável por 40% do crescimento da produção industrial nordestina no primeiro quadrimestre do ano, revelam cálculos do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi). Também tiveram contribuições expressivas os segmentos de refino de petróleo e álcool e celulose e papel, respondendo por 24% e 13% da alta, respectivamente. Nos últimos dois casos, o resultado foi influenciado pela retomada de plantas que estavam paralisadas ou por incremento de produção na Bahia.

A produção de alimentos e bebidas aumentou 10,4% no Nordeste no primeiro quadrimestre, depois de crescer 6% em 2007. Em Pernambuco e no Ceará, o desempenho foi ainda melhor, com alta de 14,2% e 14,6% na produção industrial de janeiro a abril, sempre na comparação com igual período do ano anterior. Apesar de possuir peso menor, vestuário e calçados, que são altamente empregadores, também registraram alta na produção industrial de 12% e 5%, respectivamente, no quadrimestre. No Ceará, a produção industrial da indústria calçadista cresceu quase 10%. No país, ficou estável.

De acordo com Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi, as indústrias de alimentos, bebidas, vestuário e calçados são mais espalhadas geograficamente em todo o mundo, inclusive no Brasil, por uma série de fatores. Os produtos são de uso corrente em todos os lugares, a proximidade com o mercado consumidor é fundamental para a competitividade, e os recursos necessários para a instalação de novas fábricas são menos vultosos em comparação com outros setores.

Uma das maiores companhias de alimentos do mundo, a Nestlé inaugurou uma fábrica em Feira de Santana, a 110 quilômetros de Salvador, em fevereiro. Foram investidos R$ 100 milhões nas linhas de produção de massas, bebidas achocolatadas e café solúvel, além de um centro de distribuição. A capacidade da fábrica é de 40 mil toneladas por ano, mas a empresa já estuda ampliações, porque acredita que será necessário para atender à demanda.

Segundo a assessoria de imprensa da Nestlé, a produção da fábrica está totalmente voltada para o mercado nordestino. A estratégia é pouco comum na multinacional suíça, que não costuma dividir as fábricas por regiões. No entanto, a medida foi necessária para atender ao mercado do Nordeste, onde as vendas cresceram o dobro do registrado no país. A Nestlé não divulga números ou percentuais. Desde 2000, a empresa iniciou um processo de regionalização, criando uma divisão Norte e Nordeste. A diretriz da matriz é crescer nos mercados consumidores dos países emergentes. No Brasil, a empresa avalia que a principal fronteira do consumo está no Nordeste.

O aquecimento da produção industrial se reflete no emprego. De janeiro a abril em relação a igual período do ano anterior, o emprego industrial no Nordeste cresceu 2,9%, percentual em linha com 3% da média nacional, segundo o IBGE. Em 2007 em relação a 2006, o percentual foi de apenas 1,4% no Nordeste, abaixo dos 2,2% registrados no país. Fábio Romão, economista da LCA Consultores, explica que a indústria do Nordeste demora a reagir, porque é menos diversificada. A presença de setores que dinamizam a economia, como bens de capital e meios de transporte, é muito pequena na região.

Romão faz a ressalva de que a base de comparação para a produção industrial no Nordeste é fraca, o que pode significar que a região está crescendo mais forte, mas ainda não atingiu o ritmo do país. Sérgio Vale, economista da MB Associados, também alerta que a tendência é de números mais acomodados para a produção industrial na margem nos próximos meses, inclusive para o Nordeste. A inflação dos alimentos está corroendo a renda e deve prejudicar toda a produção industrial. No Nordeste, essa tendência pode ser mais forte, porque as pessoas comprometem uma parcela maior da renda com comida.

Na comparação de média trimestral em relação aos três meses imediatamente anteriores (já descontadas as influências sazonais), a produção industrial já desacelera, conforme cálculo da LCA. Nessa comparação, a produção no Nordeste cresceu 0,7% em abril, depois de avançar 1,1% em março e 2,2% em fevereiro. "Essa é uma situação conjuntural, que não deve durar para sempre", avaliou Romão. "As empresas estão olhando para frente, já que a decisão de montar uma fábrica não acontece de uma hora para a outra". Ele enfatiza que as perspectivas para a região são otimistas no médio prazo.

"A economia do Nordeste está crescendo mais rápido, o que sofistica o padrão de consumo", afirmou ao Valor José Carlos Grubisich, presidente da Braskem. Ele conta que fabricantes de embalagem ou tubos, que são clientes da companhia petroquímico, estão se instalando no Nordeste. "Dessa maneira, ficam próximas da matéria-prima e do mercado consumidor". A Braskem possui 40% de seu negócio em Camaçari, na Bahia. Com o crescimento da economia, está investindo em ampliação de capacidade e novas unidades em todo o país. No Nordeste, a companhia estuda expandir a produção na Bahia e em Alagoas. Valor Econômico

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