9 de abril de 2008

A grande trama ignorada


Carta Capital num. 0490
7/4/2008

Enquanto a mídia consome papel, energia e tempo com o mais novo factóide da praça, o Dossiê FHC, prosseguem sem a atenção devida as pantanosas negociações para a fusão da Brasil Telecom e da Oi. Estas com potencial bem mais explosivo que a juntada de dados vazada à imprensa pelo senador tucano Álvaro Dias.

As tratativas da fusão seguem seu curso, apesar de, ao contrário do que anunciaram alguns colunistas, ainda não se tenha chegado aos termos finais do contrato. Na quarta-feira 2, as conversas retrocederam ante uma proposta espantosa do banqueiro Daniel Dantas, vetor de estratégias variadas no Brasil e na Itália (como se pode ler na reportagem de Paolo Manzo). Dantas exige, para concordar com a fusão, que os fundos de pensão aceitem ser solidários, judicial e economicamente, com qualquer problema, rombo ou falcatrua surgidos quando o Opportunity geria sozinho a BrT, caso identificados pelos novos controladores.

Durante nove anos, os principais acionistas da operadora de telefonia foram excluídos da gestão. Por nove anos, acusaram Dantas de roubar, enganar, usar a estrutura em proveito próprio, espionar e cometer crimes diversos. Reuniram provas contundentes que resultaram no indiciamento do banqueiro por formação de quadrilha e em inúmeros processos cíveis. Uma auditoria apontou um rombo de mais de 600 milhões de reais na BrT. O Citibank, um dos sócios, cobra 300 milhões de dólares por supostos danos na Justiça dos Estados Unidos.

Depois disso tudo, propõe Dantas, os fundos de pensão não só lhe concedem um atestado de idoneidade, mas também se assumem co-autores de eventuais novos crimes. É muito mais do que apenas passar uma borracha no passado, como já aceitaram as fundações. Na quarta 2, os representantes dos fundos disseram não. Mas não haverá nenhuma surpresa, caso venham a concordar com os termos propostos pelo Opportunity. As conversas foram retomadas na sexta 4.
Impressiona, contudo, a posição de árbitro da negociação que Dantas, acionista minoritário, assumiu. Que cartas o banqueiro tem nas mãos para controlar o jogo?

Volta e meia, partes envolvidas na negociação falam em pressões do governo federal em favor da fusão. Como revelou Samuel Possebon, da revista eletrônica Teletime News, certamente o jornalista mais bem informado a respeito do imbróglio, o Citibank teria aceitado abrir mão da ação contra o Opportunity, em Nova York, por “pressões políticas”. E o fez cerca de duas horas depois de ingressar com novas acusações contra o ex-parceiro na Corte norte-americana. Iguais pressões parecem mover os fundos na mesa de negociação.

Há quem no governo enxergue na fusão uma tacada em prol do desenvolvimento nacional. A criação de uma empresa de capital brasileiro forte no setor supostamente estimularia a contratação de fornecedores nativos. Reforçaria mecanismos de política industrial e evitaria que a telefonia fosse dominada por estrangeiros. Um dos maiores defensores desta tese é o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

As vantagens de bancar uma supertele nacional ainda estão por ser provadas. Certa mesmo é a existência de um conflito de interesses, caso fique absolutamente clara a interferência do Palácio do Planalto. A Oi, maior beneficiária da fusão, é sócia de uma empresa que tem entre seus acionistas Fábio Lula, filho do presidente da República. É um fato que, por si só, exigiria a neutralidade do poder público.

Quais interesses movem as partes? E por que o banqueiro responsável pela montagem de um dossiê contra figuras-chave da República, um “bandido” na definição de muitos dos envolvidos nas negociações, parece contar com a ajuda de Brasília? O que Dantas tem na manga? E contra quem?

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