19 de fevereiro de 2008

Inflação afasta temor do BC e juro desaba


Mesmo sem a referência do mercado americano, fechado por causa do feriado do Dia do Presidente, os juros desabaram no pregão de CDI futuro da BM&F. Os três componentes internos da formação da taxa de juros não só descartam a necessidade de aumento da Selic como sugerem a possibilidade de o Copom vir a retomar o processo de corte no segundo semestre do ano. Os juros futuros só não caíram mais porque a quarta variável - a crise financeira externa - permaneceu em suspenso devido ao feriado nos EUA. Ainda que o mercado monetário brasileiro esteja parcialmente desacoplado de Wall Street, as fortes quedas de ontem terão de ser reconfirmadas hoje, quando Nova York voltar ao ar. A nacionalização da instituição inglesa especializada em crédito hipotecário, a Northern Rock, não obstou a via de baixa dos juros.

Dólar tomba apesar da balança comercial

Os tombos sofridos pelos DIs foram generalizados, não discriminando entre contratos curtos e longos. A taxa para a virada do ano recuou de 11,78% para 11,68%. O CDI negociado para janeiro de 2010 caiu de 12,46% para 12,35%. O contrato com vencimento em janeiro de 2011 tombou, por sua vez, de 12,66% para 12,52%. E o swap de 360 dias caiu de 11,87% para 11,78%. Como a curva de juros, apesar das fortes quedas, mantém sua inclinação positiva, ainda incorpora a perspectiva de elevação da taxa Selic em algum momento do futuro.

O declínio dos juros futuros foi acentuado porque a inflação não só recuou em seu aspecto corrente como arrefeceram as expectativas futuras. O IPC-S da FGV caiu de 0,82% para 0,48%, evidenciando a perda de pressão dos alimentos. E as instituições pesquisadas pelo boletim Focus do BC reduziram de 4,45% para 4,39% a previsão de IPCA para este ano. As estimativas para o índice oficial de inflação referente aos próximos 12 meses e a 2009 prosseguem abaixo da meta de inflação, em 4,26% e 4,20%, respectivamente. Se o IPCA, tanto o presente quanto o futuro, não preocupa, o consumo não parece ter, por seu lado, força suficiente para tirar o indicador de sua rota acomodada. A pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as vendas feitas pelo varejo no sempre aquecido mês de dezembro foi decepcionante para os players "comprados" em juros futuros, os que apostam na alta da Selic. As vendas ficaram, segundo o IBGE, estáveis comparativamente a novembro. Em relação a dezembro de 2006, a expansão de 9% não foi nada brilhante, pois abaixo do teto das expectativas, de 10,3%. Ou seja, as vendas comerciais não sustentam a visão de inflação de demanda potencialmente explosiva. Trata-se, no entender do economista-chefe da consultoria UP Trend, Jason Vieira, de mais um dado para reforçar a "retomada do processo de afrouxamento monetário, ao menos no segundo semestre deste ano". O cenário, que conjuga vendas fracas, queda do dólar e ampla oferta de importados, dissipa, no entender de Vieira, as apostas de um aumento de juros por parte do Copom, "com abertura de espaço para uma retomada dos cortes dos juros".

A MB Associados mantém a projeção de IPCA dentro da meta de 4,5% este ano, diz o economista Sérgio Vale, apesar da persistência das pressões de alta vindas da alimentação. Segundo estudo da consultoria, o estoques das principais commodities agrícolas nunca estiveram tão baixos, como nos casos do trigo e do milho, e os preços no mercado futuro dos produtos agrícolas entraram 2008 ainda com tendência de alta. "Com a inflação tendendo a ficar ao redor da meta, a sinalização é ainda de manutenção da Selic em 11,25%", mas a MB continua a acreditar que a indicação de preços de alimentação neste começo do ano terá um peso importante na decisão do BC.

Apesar da fragilidade demonstrada pela balança comercial neste começo de ano, o dólar persiste afundando. A moeda caiu ontem 0,96%, cotada a R$ 1,7360. Do início do ano até agora, o dólar já se desvalorizou 2,31%. Como não há sobreoferta física de dólares, conclui-se que a queda resulta das operações fechadas com moeda virtual no mercado futuro da BM&F, transações destinadas a ganhar a taxa Selic. Na terceira semana de fevereiro o superávit comercial foi de apenas US$ 321 milhões, acumulando US$ 1,06 bilhão no mês e US$ 2 bilhões no ano. O saldo caiu 62,5% em janeiro em relação ao mesmo período do ano anterior. E, em fevereiro, recua 51%. Enquanto as exportações crescem 9,7%, as importações avançam quase 30%. Não era para o dólar estar caindo tanto, sobretudo diante da crise externa. É o milagre do juro alto.

Valor Econômico

0 comentários to “Inflação afasta temor do BC e juro desaba”

Postar um comentário

 

Blog Da Kika Copyright © 2011 -- Template created by Kika Martins -- Powered by Blogger