16 de janeiro de 2008

Brasil avança na produção de microbicida anti-HIV


O Brasil avançou mais uma etapa no projeto de desenvolvimento de um gel microbicida eficiente contra o vírus HIV. Em março, ficam prontos os testes da substância em tecido humano do cérvix uterino, onde o creme deve ser aplicado. Próximo passo, então, é o teste em humanos.

O Brasil avançou mais uma etapa importante no projeto de desenvolvimento de um gel microbicida eficiente contra o vírus HIV. Os cientistas envolvidos na pesquisa estão em Londres para testar a substância em tecido humano do cérvix uterino, onde o creme seria aplicado. Os resultados dos exames ficam prontos em março e o próximo passo são os testes em humanos.

Já fizemos estudos da substância com células, mas este é mais importante porque é num tecido completo, com todas as camadas, de uma parte do útero com grande chance de ser infectada pelo vírus. A substância agiria exatamente nesse local. Vamos ver se nessa situação o gel também bloqueia a ação do vírus - detalha o chefe do Laboratório de Imunologia Clínica do Instituto Oswaldo Cruz, Luiz Castello Branco.

O cientista explica que se os testes forem tão bem-sucedidos quanto os realizados até agora, o caminho estará aberto para o estudo com humanos no ano que vem. O coordenador da pesquisa acredita que em seis anos o remédio estará no mercado, com produção totalmente nacional.

Os estudos com animais e células já mostraram que a substância tem uma capacidade de prevenção da doença de 90%. O medicamento age contra tipos resistentes do vírus, criando uma barreira não só física, como farmacológica. Achamos que ele pode até funcionar como medicamento oral - completa Castello Branco.

Mais econômico

A substância caracterizada como um dolabelano diterpeno, em forma de creme, gel ou espuma, poderia ser usada pelas mulheres antes da relação sexual e sua ação seria suficiente para bloquear a transmissão do vírus. O fármaco seria produzido a partir de uma espécie de alga brasileira, e por isso seu custo seria menor. A vantagem é interessante, já que o Brasil gasta quase R$ 1 bilhão por ano com a compra e fabricação de medicamentos que foram desenvolvidos no exterior.

A pesquisadora Patrícia Ocampo está na divisão de doenças infecciosas do Saint George"s Medical School, em Londres, para coordenar a transferência de tecnologia da realização de explantes humanos para o Brasil. A técnica permite a realização de testes em fragmentos de tecido humano do cérvix uterino, retirados por biópsia e mantidos vivos em cultura no laboratório. Os testes até hoje só estão disponíveis na Inglaterra.

Vamos aprender a tecnologia lá e até o final do ano teremos a técnica implantada no Brasil - conta Castello Branco.

Além do avanço científico-tecnológico e da economia financeira, um microbicida eficiente contra o HIV significará a independência feminina na prevenção da Aids - até hoje, o único método preventivo eficaz contra a doença é o uso de preservativo, muitas vezes rejeitado por homens casados.

O retroviral age em duas fases do ciclo de vida do virus, ao contrário da maioria dos remédios - comemora o pesquisador.

100% brasileiro

Segundo o cientista, este é o primeiro retroviral 100% brasileiro que está indo bem em todos os testes e já há outros em linha de pesquisa, com resultados promissores. O dolabelano diterpeno mostrou-se bastante promissor ao inibir a replicação do vírus em linfócitos e macrófagos, células de defesa do organismo humano infectadas pelo HIV.

O projeto é desenvolvido por uma parceria do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) e o Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do Ministério da Saúde. A substância já foi aceita pela Aliança para o Desenvolvimento de Microbicidas, organização internacional apoiada pela Fundação Bill & Melinda Gates, como um candidato potencial à produção de um microbicida.

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