28 de dezembro de 2007

Petrobras recupera papel de destaque na petroquímica


A Petrobras gastou ao longo do ano R$ 5,5 bilhões para deter uma posição de relevância (porém sem controle) das empresas petroquímicas brasileiras. De participações acionárias dispersas e incongruentes em 31 de dezembro do ano passado, avaliadas em R$ 1,3 bilhão, a estatal chega ao fim de 2007 com uma presença no setor de aproximadamente R$ 6,5 bilhões, considerando as fatias de 40% e de 25%, respectivamente, na Companhia Petroquímica do Sudeste (CPS) e na Braskem, as duas empresas que resultaram da consolidação da petroquímica brasileira.

Para 2008, uma das primeiras decisões de peso que a área petroquímica da Petrobras vai tomar será a definição dos acionistas do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), o pólo que refinará óleo pesado da Bacia de Santos e produzirá produtos petroquímicos para fabricação de plásticos. Está em discussão se a CPS, controlada pela Unipar, poderá também participar da refinaria.

"Não está descartada uma participação (da CPS) minoritária na refinaria. Mas isso deixamos para resolver em 2008", disse ao Valor o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, responsável pela área petroquímica da estatal. Já está definido que a Petrobras será a controladora da refinaria que irá processar 150 mil barris diários de óleo pesado da bacia de Campos (RJ) para fazer 1,3 milhão de toneladas anuais de eteno, 880 mil toneladas anuais de propeno e outros derivados do processo de refinação.

A construção do Comperj vai coroar o salto da Petrobras na área petroquímica. A empresa havia praticamente perdido esta vocação durante as privatizações da década de 1990. "Saímos (das privatizações) apenas como um acionista financeiro com participações insignificantes", disse Costa. No cenário anterior, a Petroquisa, por enquanto ainda a representação legal deste braço petroquímico da estatal, era a onipresente do sistema tripartite (estatal/nacional-privado/estrangeiro) adotado para criar a petroquímica no país. A partir de 2003, enraizou-se na Petrobras a idéia de promover a virada para o terceiro ciclo da sua presença no setor. Nem a grande irmã do primeiro ciclo e nem a prima pobre que subsistia. "A idéia foi de ampliar a participação sem transtornar o setor privado. Uma presença não dominante na gestão."

O objetivo da mudança, segundo o relato do executivo, foi retirar a empresa da incômoda posição de simples supridora de matéria-prima básica, uma espécie de suporte do setor privado, para agregar valor a essas matérias-primas e ganhar mais dinheiro na cadeia produtiva do setor como um todo. O primeiro passo nesta direção foi a compra, em março, da Ipiranga Petroquímica, em parceria com a Braskem, em um pacote que incluiu também a aquisição das distribuidoras do grupo Ipiranga em parceria com o grupo Ultra. Por sua parte na petroquímica a Petrobras pagou cerca de R$ 1,3 bilhão.

Em agosto a estatal surpreendeu o mercado pagando cerca de R$ 4 bilhões (incluindo as dívidas assumidas) pela Suzano Petroquímica agilizando a consolidação da petroquímica na região Sudeste em uma parceria posteriormente costurada com o grupo Unipar, ficando este com 60% dos ativos resultantes da sua associação com a Petrobras. A CPS nasceu como uma empresa de aproximadamente R$ 6 bilhões.

A compra da Ipiranga permitiu a consolidação dos pólos do Sul e do Nordeste, sob a liderança da Braskem, empresa que dá o nome à parceria na qual a estatal detém 25%. Considerando que a nova Braskem passou a ser uma empresa de R$ 16 bilhões, Costa avalia que a Petroquisa passou a deter dela uma fatia de R$ 4 bilhões.

A consolidação, segundo avalia Costa, criou empresas no país capazes de competir em âmbito global, como é a tendência mundial das empresas em geral e do setor petroquímico em particular. A Petrobras passou a ser uma sócia estratégica nessas duas empresas, com estatutos que asseguram a necessidade de voto qualificado para várias decisões relevantes. Mas a estatal não ficou com poder de veto para barrar, por exemplo, decisões de investimentos futuros.

Embora nos bastidores diga-se que a Petrobras lutou até o último minuto por esse direito, Costa afirma que esse formato não faria sentido. "Seria muito problemático junto ao Cade (o Conselho Administrativo de Defesa Econômica)", avalia. Segundo ele, caso a Petrobras detivesse poder de veto nos conselhos das duas principais petroquímica do país, estaria cristalizada uma reestatização sem sentido e sujeita a críticas de todos os lados.

O dirigente da Petrobras entende também que a entrada da estatal nas duas gigantes do setor não impede que ela toque de forma independente, até com associações diferentes, outros projetos que ela há muito vem trabalhando. Um deles é o emperrado complexo acrílico de Minas Gerais, que tem o objetivo de tornar o Brasil auto-suficiente na produção de super absorvente (SAP), a matéria-prima das fraldas descartáveis. O projeto está parado na dificuldade de encontrar um parceiro tecnológico.

O segundo, já sacramentado no papel, prevê a construção de uma fábrica de ácido tereftálico purificado (PTA), matéria-prima das garrafas PET, e outra de fios de poliéster, esta em parceria com a Companhia Têxtil do Nordeste (Citene). Para Costa, os dois projetos são independentes e não têm sinergia com as duas grandes petroquímicas às quais a Petrobras está associada. Nestas, o objetivo principal é a produção de resinas termoplástica, principalmente polietileno e polipropileno.

A reestruturação poderá representar também o princípio do fim para a Petroquisa, subsidiária da Petrobras que já foi de capital aberto e que hoje é 100% da estatal. Ao optar pela compra dos ativos da Ipiranga Petroquímica e da Suzano Petroquímica diretamente pela "holding", a direção da estatal começou a tornar a sua subsidiária dispensável, como já admitiu seu presidente, José Sergio Gabrielli. É outro assunto que fica para 2008.

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