A alta de 0,7% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) em dezembro mostrou um quadro desfavorável para inflação. Os alimentos foram novamente os grandes responsáveis pela elevação dos preços, mas não foram as únicas fontes de pressão: os serviços também tiveram aceleração, sugerindo que a demanda mais forte começa a empurrar os indicadores para cima. Uma prévia do IPCA, que serve de referência para o regime de metas de inflação, o IPCA-15 fechou o ano com alta de 4,36%, bem acima do 2,96% do ano passado. Com isso, cresceu a possibilidade de o IPCA encerrar 2007 próximo do centro da meta, de 4,5%.
O aumento de 0,7% em dezembro ficou bem acima do 0,23% de novembro, superando também as estimativas dos economistas, que previam uma alta na casa de 0,6%. A variação mais forte foi do grupo alimentos e bebidas, que subiu 1,73%, respondendo por 0,37 ponto percentual da alta do IPCA-15 no mês. O subgrupo que mais subiu foi o de carnes, com alta de 8,78%. Sozinho, contribuiu com 0,16 ponto para o avanço de 0,7% do indicador. "Eu esperava uma elevação forte de alimentos, mas ela veio ainda mais forte do que eu projetava", diz o economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada, que estimava uma alta de 1,53%. No ano, o grupo alimentos e bebidas subiu 10,06%, respondendo por 2,1 pontos percentuais dos 4,36% registrados pelo IPCA-15 em 2007.
A questão é que o resultado de dezembro mostrou pressões inflacionárias que não se limitam aos alimentos. Barbosa e o economista-chefe do JP Morgan, Fábio Akira, apontam como preocupante a elevação do grupo de serviços (como aluguel, condomínio, cabeleireiro, mensalidades escolares, conserto de automóveis), que cresceu 0,54% em dezembro. No IPCA-15 de novembro, a alta tinha sido de 0,33%. Os serviços são os típicos bens não-comercializáveis (non tradables, em economês), que não podem ser atendidos por aumentos de importações. Para Akira, o movimento sugere que a demanda mais forte começa a pressionar os preços.
Depois do resultado do IPCA-15 - que mede a variação dos preços entre a segunda metade do mês anterior a a primeira do mês de referência -, Barbosa elevou a sua previsão para o IPCA de dezembro de 0,5% para 0,75%. Com isso, ele acredita que o indicador deve fechar o ano não mais em 4,3%, mas na casa de 4,5% - exatamente no centro da meta deste ano. É um número bem superior ao registrado em 2006, quando indicador subiu 3,1%. Akira também aumentou a sua estimativa para o IPCA no ano, de 4,35% para 4,4%.
A evolução dos preços livres, excluindo alimentos, também mostra uma alta da inflação menos concentrada nesses produtos. Em novembro, esse indicador subiu 0,31%, percentual que se acelerou para 0,55% em dezembro, de acordo com números da LCA Consultores. Segundo a consultoria, a evolução dos preços livres excluindo alimentos "merece atenção": no acumulado em 12 meses, passou de 3% em setembro para 3,4% em dezembro. "Esse comportamento esteve associado principalmente à evolução dos preços de serviços", avaliam os economistas da LCA.
A LCA aponta também uma deterioração nas medidas de núcleo, que excluem as variações de alguns preços para tentar captar melhor a tendência da inflação. A média de três medidas de núcleo ficou em 0,5% em dezembro, o equivalente a 6,1% em termos anualizados. No IPCA fechado de novembro, a média era de 0,36%, ou 4,4% anualizados.
Por tudo isso, o cenário para a inflação em 2008 ficou mais incerto. Os analistas esperam uma alta bem menor dos preços dos alimentos - em vez de 10%, as previsões apontam para algo entre 3% e 5% - mas deve haver aceleração dos serviços e dos preços administrados, por exemplo. Nesse cenário, tudo indica que a taxa Selic permanecerá inalterada por muitos meses, e há quem considere possível uma elevação dos juros no ano que vem.