O Ibama-Rio embargou ontem a obra da ponte que liga o pier do terminal portuário onde vão atracar navios à área da futura usina da ThyssenKrupp CSA Companhia Siderúrgica Atlântico, na região de Santa Cruz, zona oeste do Rio. Segundo Adilson Gil, superintendente do Ibama-Rio, foi constatado em vistoria feita há 20 dias na área do complexo siderúrgico - um investimento de R$ 6,2 bilhões do grupo alemão ThyssenKrupp, em sociedade com a Vale - que foi suprimido o dobro da área do manguezal autorizada pela Feema, sobre o qual passa a ponte.
"A área autorizada era de cinco hectares, mas a obra utilizou o dobro. Por isso, embargamos a obra e autuamos e multamos a empresa em R$ 100 mil. Ela tem agora 20 dias para se explicar ao Ibama-Rio", disse Gil ao Valor.
O presidente da ThyssenKrupp CSA Companhia Siderúrgica, Aristides Corbellini, confirmou através de sua assessoria, que recebeu um auto de infração do Ibama-Rio por utilizar área de mangue superior à permitida pela licença ambiental aprovada pelos órgãos ambientais do Estado. Segundo ele, a empresa vai usar os 20 dias de que dispõe para contestar o auto de infração, argumentando que nada foi construído em cima do manguezal.
A ThyssenKrupp vai afirmar ainda, em sua defesa, que quando constatou a necessidade de suprimir uma área maior do manguezal comunicou ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), à Feema e ao Ministério Público Federal (MPF), onde é movido um inquérito contra ela por questões ambientais na obra de Santa Cruz. Segundo a assessoria de Corbellini, a ponte já foi construída e a parte destruída do mangue já está em processo de regeneração, tendo sido criado um plano geral de recuperação da parte afetada do manguezal, que fica numa ilha que liga a costa com a baía de Sepetiba.
O secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, informou que o licenciamento do complexo siderúrgico da ThyssenKrupp foi dado no governo anterior. "A licença permitia supressão de cinco hectares de vegetação do manguezal com obrigação da empresa de replantar 50 hectares. Mas, ao invés dos cinco foram suprimidos oito. Por isso foram multados e terão que replantar outro tanto."
O pedido de inspeção da obra da CSA foi feito em novembro passado ao Ibama-Rio e ao Núcleo de Meio Ambiente da Polícia Federal pelo Fórum de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Zona Oeste e da Baía de Sepetiba, disse Sérgio Ricardo, ambientalista coordenador do fórum. Ele informou que o licenciamento ambiental do complexo siderúrgico da ThyssenKrupp está "todo ilegal" e que existe um inquérito correndo no Ministério Público cargo do procurador Maurício Manso.
Segundo Ricardo, o EIA-Rima da empresa não toca na questão do benzeno, da coqueria, que envenena o meio ambiente e nem menciona que está previsto o lançamento de 20 milhões de metros cúbicos de toneladas de lama contaminada com metais pesados na baía de Sepetiba, o que vai inviabilizar a atividade dos pescadores locais.
O superintendente do Ibama - Rio, Adilson Gil, disse que o órgão ambiental não constatou estas denúncias na vistoria recente, mas está norteando a Feema para que ela faça um monitoramento constante da obra para verificar a procedência das denúncias.