24 de dezembro de 2007


Desigualdade educacional é ainda maior que a de renda
Estudo mostra que abismo entre pobres e ricos no Brasil é maior na educação

Pesquisador usou parâmetros similares aos da fórmula usada por economistas para chegar a essa conclusão


O abismo que separa pobres e ricos no país em termos de aprendizado é maior que o verificado na desigualdade de renda, área em que, apesar dos avanços recentes, o Brasil ainda é lembrado como uma das nações mais desiguais.
A conclusão é de um estudo do pesquisador José Francisco Soares, coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Publicado no periódico científico "International Journal of Educational Research" (Jornal Internacional de Pesquisa Educacional), o trabalho estimou a desigualdade na educação brasileira usando parâmetros similares aos do índice de Gini, fórmula usada por economistas para avaliar o grau de desigualdade na renda de um país. Esse índice varia de zero a um, sendo um o máximo de desigualdade.
Usando a mesma escala, Soares calculou a desigualdade de aprendizado de alunos brasileiros a partir das notas dos estudantes de oitava série nas provas de matemática do Saeb em 2003 (exame do MEC que avalia a qualidade da educação) e chegou ao índice de 0,635.
"É um valor alto, o que mostra que o resultado do sistema educacional brasileiro fica muito abaixo das expectativas. É também superior ao índice de Gini do Brasil, ou seja, a desigualdade educacional [...] é maior do que a econômica", afirma o pesquisador em seu artigo. Para 2003, o IBGE calculou em 0,545 o índice de Gini brasileiro.
O estudo mostra ainda que a desigualdade entre meninas é maior do que a entre meninos e que, de 1995 a 2003, houve aumento no índice.
Para calcular a desigualdade, Soares diz que os economistas estabeleceram como parâmetro uma situação ideal em que todos teriam a mesma renda e, a partir daí, medem quão distante cada país está disso. "O que fiz foi adaptar essa idéia para a educação. Aqui, entretanto, o ideal em termos de desempenho não é a igualdade. Não podemos querer que todos aprendam o mesmo em todas as áreas. Quando eu olho uma boa escola, é preciso que ela tenha um grupo de excelência, mas que seja também capaz de garantir níveis básicos de aprendizados para todos."
Para Soares, o preocupante no caso brasileiro é que a desigualdade nas notas entre alunos nem sempre é discutida pelos gestores. Ele teme que possa acontecer com a educação o mesmo que ocorreu com a economia no milagre econômico (na década de 70) -ou seja, as médias crescerem sem que a desigualdade diminua.
"O Ideb [índice criado pelo MEC a partir das taxas de repetência e notas dos alunos para estabelecer metas de melhoria até 2022], por exemplo, não incorporou essa discussão. As médias poderão melhorar com estratégias não equitativas."
Como exemplo de uma dessas estratégias que melhoram as médias sem diminuir a desigualdade, ele lembra que uma escola pode concentrar seus esforços nos alunos medianos e que estão mais próximos da meta, deixando de lado os que estão muito abaixo.(Folha)



Maior desigualdade escolar é em São Paulo



Secretária estadual da Educação diz que o tamanho da população do Estado é uma das explicações para as diferenças

Para economista, se Brasil quiser continuar diminuindo sua desigualdade de renda, será preciso colher avanços na desigualdade educacional



O economista Fábio Waltenberg, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, também pesquisou a desigualdade brasileira a partir das notas de alunos da oitava série em matemática e descobriu que São Paulo é o Estado com a maior diferença.
Em sua tese de doutorado -premiada pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia-, Waltenberg também aplicou na educação uma medida usada por economistas (o índice de entropia generalizada) para medir a desigualdade de renda.
Ele mostra que os Estados mais desiguais são São Paulo, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Minas e Rio. No outro extremo estão Amapá, Rio Grande do Sul e Acre.
O Sudeste, apesar de ter desempenho melhor no Saeb, apresentou mais desigualdade. No Nordeste, acontece a pior situação: médias baixas com altos níveis de desigualdade. O Sul apresentou o resultado mais satisfatório: menos desigualdade e melhores médias.
No caso de São Paulo, a hipótese de Waltenberg é que, assim como acontece no Rio e em Minas, há, ao mesmo tempo, os melhores colégios particulares e péssimas escolas nas periferias e favelas.

Distância
Uma maneira mais simples -porém menos precisa- de constatar esse resultado é comparando a média de escolas particulares e públicas no Saeb (exame do MEC) em cada Estado. Utilizando a mesma série (a oitava) e a mesma disciplina (matemática) analisada por Waltenberg, a Folha comparou essa distância em 2005.
São Paulo, de novo, aparece como o Estado onde a rede privada está mais distante da pública. As regiões Sudeste e Nordeste do país também foram mais desiguais.
Para o economista, se o país quiser continuar diminuindo sua desigualdade de renda, será preciso colher avanços na desigualdade educacional.
"Muitos estudos no Brasil só consideram a quantidade nas comparações educacionais, mas a qualidade é determinante da renda. Não basta transferir dinheiro para os mais pobres. Resolver o nó da qualidade é o caminho para alterar a estrutura de desigualdade."

Secretária
A secretária estadual da Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, diz que o tamanho da população do Estado (40 milhões) é uma das explicações para a maior desigualdade educacional. "Provavelmente, não existe no Brasil nenhuma rede tão heterogênea quanto a de São Paulo."
Ela argumenta, no entanto, que São Paulo tem a maior proporção de jovens de 15 a 17 anos estudando na série adequada para a sua idade (66%). "Aqui, a inclusão dos mais pobres no sistema foi real."
Para diminuir a desigualdade, a secretária diz que o governo está melhorando o sistema de recuperação dos alunos com dificuldade de aprendizado e padronizando os critérios de avaliação e o currículo.
"Cada escola estava avaliando o aluno de uma maneira", afirma. Sou a favor do sistema de progressão continuada, mas, para que ele funcione, é preciso que o aluno seja avaliado constantemente, o que não estava acontecendo. O que estamos fazendo é recuperar as rotinas básicas da escola, que foram abandonadas, mas que precisam funcionar", diz. (Folha)

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