Reconhecimento da capacidade da indústria nacional ocorreu após ataques terroristas nos EUA. O espaço aéreo brasileiro será controlado por tecnologias das mais avançadas dentro dos próximos 20 anos. A afirmação pode soar para muitos como absurda porém revela uma realidade escondida pela crise. As empresas nacionais têm plenas condições de transformar esse cenário e criar um sistema de monitoramento dos céus do País em algo exemplar para o restante do mundo, além de alicerçarem um dos maiores pilares constitucionais – a soberania plena do Estado brasileiro sobre seu vasto território. Um dos marcos neste processo de qualificação e reconhecimento da tecnologia brasileira começou exatamente por ocasião dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Então, surgiu um grande ponto de interrogação sobre o gerenciamento do fluxo de aeronaves na maior potência bélica e econômica do planeta. Como aquilo pôde acontecer dentro do sofisticadíssimo sistema de controle aéreo norte-americano? A resposta veio, por incrível que pareça, do Brasil, conta Giacomo Feres Staniscia, diretor da Atech Tecnologias Críticas, empresa do pólo aeroespacial de São José dos Campos. Diferente dos Estados Unidos, o sistema nacional de controle aeronáutico integra tanto a aviação civil quanto a militar. "Por essa característica, dificilmente aconteceria aqui o que lá ocorreu em 11 de setembro", afirma.
Os norte-americanos utilizam sistemas de controle do tráfego separados, um para aviões civis e outro para militares. Sabendo disto e da lentidão que este sistema dual gera na comunicação entre as partes, os terroristas tomaram os aviões civis para usá-los como armas, sem qualquer interceptação pela frota de caças. O aparato de gerenciamento do maior volume de aviões em trânsito do mundo, que até então parecia perfeito, foi, literalmente, por terra. O governo dos Estados Unidos se lançou desesperadamente a buscar sistemas de controle aéreo que impedissem aquele tipo de vulnerabilidade.
Meses depois, representantes do alto escalão – Administração Federal de Aviação ( FAA) e Departamento de Defesa – vieram conhecer as soluções brasileiras. Elas consistem em operar todo o tráfego num só console. Ou seja, em apenas uma tela o controlador civil e o militar conseguem visualizar todas as aeronaves em vôo. "Apesar de distintos, os softwares usados são integrados e os operadores recebem treinamento diferenciado", salienta Giacomo Staniscia.
Transformação As soluções desenvolvidas e em operação no Brasil competem em termos iguais com as soluções apresentadas pelos fornecedores europeus e norte-americanos. Na opinião dos especialistas, as técnicas empregadas pela engenharia brasileira estão entre as cinco melhores existentes no mundo, o que garante ao País a classificação de nível 1 pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI).
Mas isto terá que melhorar para acompanhar o avanço tecnológico que ocorrerá até 2025. O número de vôos nos Estados Unidos crescerá em 100%, já a Europa terá seu tráfego ampliado em 2,4 vezes, enquanto na Ásia estima-se expansão de 300% a 400%. O cenário estimado para a América Latina é que atinja 3,4 vezes neste período, com a liderança do Brasil. Estudos da Boeing mostram que o crescimento médio anual em número de vôos será de 6,9%, sendo os líderes desta marca a Ásia, Oceania e América Latina.Os Estados Unidos já planejam transformar todo o seu sistema de controle aéreo em 20 anos. A Europa já guarda € 20 bilhões para essa investida no setor. Até 2010 o nível de automação será acentuadíssimo, dando um salto de qualidade no gerenciamento das rotas. Essa será a tônica mundial.
As pesquisas mostram que o fator segurança será ampliado em 10 vezes sobre o nível atual, além de triplicar o aumento na capacidade de tratamento das informações. Os investimentos serão equilibrados, tanto nos segmentos de solo como no aéreo. E essa capacidade de adaptação às novas tecnologias terá impacto direto no Brasil, pois haverá uma homogeneidade neste processo em todos os cantos do planeta. Novamente as empresas do pólo aeroespacial brasileiro correm em condições de igualdade com as estrangeiras. O sistema de nova geração já está em curso e receberá a denominação de Sistema Dinâmico. Isto começou nos anos 1990 com a atualização da parte de hardware adquirida em 1981, pelo então Ministério da Aeronáutica, num pacote da empresa francesa Thomson por US$ 2 bilhões.
Atualmente esses equipamentos são substituídos por aparelhos encontrados no mercado de informática. A parte relativa aos softwares, uma das especialidades do Brasil, proporcionará um sistema de controle do tráfego aéreo estruturado para ser dinâmico, no qual o avião deixará de ter uma rota individual para ter trajetórias globais e com possibilidades múltiplas de interação entre pilotos, controladores e sistemas inteligentes.
