13 de dezembro de 2009

Senta que lá vem história

De tempos em tempos, o presidente Lula recebe em sua casa em São Bernardo do Campo um isopor com porções generosas de buchada de bode. A iguaria, uma das suas favoritas, vem sob encomenda do fogão da tia Zélia, 56, dona de um restaurante na Vila Planalto, em Brasília.

Desde o primeiro mandato, sempre que tem vontade de comer buchada, Lula recorre a Zélia. Ela já preparou o prato para festas com autoridades e de família ou para almoços rápidos -mas de lenta digestão- no Planalto.

Tudo começou com um comentário de um assessor dele, que foi almoçar no Tia Zélia, o restaurante. Diante dos elogios à buchada, o presidente começou a pedir marmitas. Descobriu outras maravilhas preparadas por ela: vaca atolada, feijão tropeiro e musse de tamarindo.

Pego pelo estômago, o presidente quis conhecer tia Zélia. Ela foi ao Planalto, tiraram fotos, ficaram amigos. "Lula é maravilhoso, é o presidente internacional do Brasil", diz a nordestina que chegou a Brasília há mais de 30 anos, ainda como Maria de Jesus Oliveira da Costa.

Em outubro, ela estava entre os convidados da festa de aniversário dele.
Em um dos encontros, Lula perguntou o que podia fazer por ela. Tia Zélia, que é da opinião de que "a gente não vai no presidente para pedir", tentou desconversar. Acabou falando. "Só quero que o Arruda me deixe trabalhar em paz com o puxadinho que eu fiz aqui, que eles estão me incomodando", disse, em referência às tendas que armou para a clientela em frente ao restaurante. Eram ameaçadas pelos fiscais do governo de José Roberto Arruda (DF).

"Se foi o Lula [que intercedeu] ou não foi, eu não sei. Só sei que não mexeram mais comigo", afirma ela.

Ao comentar o escândalo envolvendo Arruda, gravado em vídeo recebendo um maço de notas e, em conversas telefônicas, discutindo suposta distribuição de dinheiro a aliados, tia Zélia diz que nunca simpatizou com ele. "Graças a Deus, nunca veio aqui."

A buchada, preparada com estômago e miúdos de bode que cozinham por até sete horas, saiu do cardápio do restaurante. Hoje, só por encomenda. Quem almoça no Tia Zélia pode provar oito pratos nada leves. Entre eles, javali, carneiro, feijoada e leitão.
No salão rústico, estão espalhadas fotos do presidente, abraçado a Zélia ou em pose oficial, autografada. O restaurante lota de terça a quinta, quando políticos e funcionários públicos são maioria.

Não é a primeira vez que a Vila Planalto, bairro dos pioneiros de Brasília, esconde cozinheiros diletos de presidentes. Próximo do Tia Zélia fica o Rosental, que foi do cozinheiro de Juscelino Kubitschek. Rosental morreu em 2005, mas o restaurante segue uma tradição na cidade.

Para agradecer o apoio dos políticos e amigos, tia Zélia oferece uma vez ao ano o que chama de "almoço 0800", em que não cobra nada dos 300 convidados. "Vem gente muito bonita, de todos os ministérios da Esplanada", diz.

O deste ano será na terça-feira. "Vou preparar um carneiro que o prefeito de São Bernardo, o [Luiz] Marinho, me mandou", diz ela. "E também uma leitoa que eu ganhei do pessoal da Infraero." Para completar, pudim de leite.

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