30 de dezembro de 2009

IGP-M, índice que reajusta aluguéis, tem primeira deflação da história

Pela primeira vez desde que começou a ser calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 1989, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) registrou deflação. O indicador, que é usado para reajustar os aluguéis e outros contratos de prestação de serviços, acumulou de janeiro a dezembro deste ano queda de 1,72%. Só no mês de dezembro, o IGP-M recuou 0,26% e voltou ao terreno negativo, depois de ter encerrado novembro com alta de 0,10%.

Os resultados anual e mensal superaram as expectativas do mercado financeiro. O último Boletim Focus, do Banco Central (BC), apontava para uma deflação anual de 1,41%. A mediana das projeções do mercado para o IGP-M de dezembro era de -0,15%, segundo a Agência Estado.

A deflação do IGP-M de 2009 contrasta com o desempenho de anos anteriores. Em 2008, o índice subiu 9,81%. Antes do Plano Real, em 1994, o índice anual estava na faixa de quatro dígitos. Em 1993, por exemplo, o indicador acumulou alta de 2.567,46%.

"Essa deflação histórica do IGP-M registrada neste ano foi resultado da combinação da crise global com a crise local", afirma o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Ele explica que a crise internacional jogou os preços em dólar das commodities para baixo. Além disso, a valorização do real em relação ao dólar, que atingiu 25% neste ano em razão da entrada de capitais externos - porque o Brasil saiu mais rapidamente da recessão em relação a outros países -, potencializou o efeito da crise financeira nos índices de preços.

Quadros destaca que a deflação deste ano, especialmente influenciada pelos preços industriais no atacado que atingiram o recorde histórico de baixa de 4,74%, cria condições para que a expansão da economia prevista para 2010 não pressione a inflação no curto prazo.

MERCADO

Apesar do cenário confortável para os preços, Quadros, assim como boa parte dos economistas do mercado, não acredita que a deflação nos IGPs se repita no ano que vem. De acordo com o Boletim Focus, que reúne projeções de analistas, o mercado projeta IGP-M de 4,5%, em média, para 2010, depois do tombo deste ano.

"É difícil que a deflação do IGP-M volte em 2010", afirma Fábio Romão, economista da LCA Consultores. Ele prevê que o indicador atinja 4,6% no ano que vem, em razão da recuperação da economia mundial e da elevação dos preços das commodities.

Quadros prefere não fazer projeções para o indicador, mas diz que a previsão de 4,5% feita pelo mercado para 2010 é "um resultado possível".

O coordenador da FGV e Romão, da LCA, concordam que o fator chave da inflação para o ano que vem será o comportamento dos alimentos ao consumidor. Neste ano, a alimentação que responde por cerca de um quarto do Índice Preços ao Consumidor-Mercado (IPC-M) subiu 2,49%. No ano passado, a alta acumulada dos alimentos foi de 10,39%. "A variação dos preços dos alimentos será um pouco maior em 2010, mas nada parecido com o que foi em 2008", pondera Quadros.

Enquanto os preços dos alimentos despontam como fator de risco para a inflação do ano que vem, os preços dos serviços administrados que são reajustados pelo IGP-M devem ajudar a contrabalançar as pressões inflacionárias, por causa da deflação do indicador acumulada nos últimos 12 meses.

O aluguel residencial, por exemplo, foi o preço que mais contribuiu positivamente para a alta do IPC-M neste ano. Em 2009, o aluguel subiu 7,07% e contribuiu com 0,35 ponto porcentual para o IPC que fechou com elevação de 3,97% no ano. Com a deflação do indexador, a perspectiva é de que os preços dos aluguéis sejam mantidos.

ATACADO

O Índice de Preços por Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP, foi o principal responsável pela deflação histórica do indicador no ano. Em 2009, o IPA caiu 4,42%, um recorde de baixa. No ano anterior, o indicador tinha subido 10,84%. A maior retração dentro do IPA foi registrada nos bens intermediários, isto é, as matérias primas usadas pela indústria, cujos preços médios recuaram 7,29% em 2009, depois de terem subido 15,61% no ano anterior. A maior retração ocorreu no preço do minério de ferro, que ficou 44,08% mais barato neste ano em reais e contribuiu com 1,13 ponto porcentual para a retração do IPA neste ano.

Já o IPC teve forte desaceleração ao longo do ano, mas não chegou a ficar negativo. Em 2009, o indicador acumulou alta de 3,97%, ante uma elevação de 6,07% acumulada em 2008.

Também o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que pesa 10% no IGP, perdeu fôlego em 2009. O indicador subiu 3,22% neste ano, cerca de um quarto variação acumulada em 2008 (12%). A maior retração ocorreu no vergalhão de aço, cujo preço caiu 15,70%.

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