16 de setembro de 2009

Governo espera nova postura da Vale

"Pelo que entendi, a Vale está disposta a olhar um pouco mais para o interesse nacional". Foi com esse comentário que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou para o Valor o resultado da reunião que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve, no dia 8, com o presidente da Vale, Roger Agnelli.

Agastado com a postura de total independência da empresa para demitir sem necessidade no auge da crise financeira global, comprar navios e bens de capital na China em detrimento da indústria nacional e, sobretudo, de postergar investimentos em usinas siderúrgicas - o ingresso da empresa nessa área é uma velha demanda do governo - Lula deixou claríssima sua contrariedade. Chegou-se a suspeitar que o palácio do Planalto estaria interessado na troca de Agnelli e que, também, dando apoio ao ingresso do empresário Eike Batista na Valepar, através da compra das ações da Bradespar na empresa. Isso o ministro não confirmou.

"O que há de concreto é que o presidente vem demonstrando certa insatisfação e ela é real. A Vale andou apresentando uma série de projetos de criação de valor agregado. Ela é exportadora e paga pouco tributo. Então, é desejável que agregue valor. A empresa vem apresentando projetos de siderúrgicas aqui e acolá. Me parece que é isso que deixa o presidente aflito. Soma-se a isso as demissões e as encomendas fora", explicou Mantega, que estava presente à reunião da semana passada no palácio do Planalto, com o comando da Vale.

"O descontentamento do presidente veio com a postergação dos projetos. Nós acreditamos que o crescimento vai acontecer. Vai haver muita demanda de aço e o setor investe pouco. Conseguimos aumentar a demanda da indústria automobilística, da linha branca, da construção e tudo isso demanda muito aço. Temos a meta de construir 1 milhão de residências. Tem de ter visão e apostar naquilo que não é imediato", salientou.

Mantega salientou que 51% do controle acionário da Vale está nas mãos de fundos de pensão estatais e do BNDES. O governo tem uma ação especial na companhia, uma "golden share", mas ela só pode ser usada em casos bastante específicos, como mudança de nome ou transferência da sede para o exterior. A ação não dá ao governo o direito de interferir nos negócios estratégicos da Vale. "A "golden share" serve para pouca coisa. Não fui eu quem fez. Se tivesse feito, não seria só para isso". O modelo de privatização da companhia foi feito pelo governo FHC.

"Acredito que a Vale deverá olhar mais para os interesses nacionais, fazendo investimentos em siderúrgicas aqui, usando parte do minério no Brasil, agregando valor e gerando empregos aqui", resumiu o ministro. A dispensa de 100 empregados no país, no auge da crise financeira mundial, em dezembro de 2008, teve efeito "desprezível" no faturamento, segundo o ministro, mas deu um sinal ruim.

Além das sucessivas postergações das siderúrgicas, o presidente Lula tambem ficou irritado com as importações de cerca de US$ 300 milhões em bens de capital e com as encomendas de 12 navios cargueiros da China, ao preço unitário de cerca de US$ 130 milhões. Essas iniciativas desagradaram os empresários nacionais de ambos os setores, que fizeram queixas ao ministro da Fazenda durante reunião de acompanhamento da crise global, em agosto.

Há dois anos a Vale pediu ao Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval licença para comprar navios no exterior porque não havia capacidade de produção doméstica. "Agora, a questão é negociar. Por quê produzir lá fora se dá para fazer aqui? São coisas que demoram dois ou três anos para produzir, não é de imediato. Ela (a empresa) quer vinte navios em três anos. Temos de capacitar a indústria nacional para dar conta dessa demanda."

Há recursos a custo real zero e até mesmo negativo para financiar investimentos. "Demos financiamento com taxa real zero para bens de capital (custo nominal de 4,5% ao ano). Lançamos programas de estímulo ao investimento com taxa nominal de 3,5% ao ano para desenvolvimento tecnológico, ou seja, juros negativos. O governo não está medindo esforços. Só falta o empresário se animar. Acordem! A demanda está aí!", conclamou o ministro.

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