Balança comercial ajudou Brasil a obter superávit de US$ 1,43 bi nas transações em moeda estrangeira em abril
O bom desempenho da balança comercial permitiu que o Brasil voltasse a ter saldo positivo no ingresso de moeda estrangeira no mês passado. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram um superávit de US$ 1,43 bilhão em abril, o melhor resultado desde setembro de 2008, quando houve o agravamento da crise financeira.
A recuperação do segmento comercial, porém, ainda não é percebida no fluxo financeiro, que registra as operações de investidores e empresas, que trazem dólares para investimentos na produção, aplicações no mercado de ações e em títulos públicos. Nesse critério, o País amargou o 14º mês seguido de saída de recursos, registrando, no mês passado, um saldo negativo de US$ 3,487 bilhões.
O fluxo cambial dá sinais de caminhar para uma situação mais próxima daquela vista antes da crise. "A melhora tem contribuído para a valorização do real, que também acompanha um movimento de desvalorização do dólar ante as várias moedas", afirma o economista do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em relatório sobre os resultados de abril.
"O dólar, que bateu em R$ 2,50, voltou a ficar perto de R$ 2,10. Estamos longe do piso de antes da crise, mas já melhorou bastante", diz o economista da Austin Rating, Alex Agostini.
Para ele, os números consolidam a sensação de que o pior já passou. "A sangria ficou para trás e agora estamos em um estágio de estabilidade com perspectiva de melhora."
O ingresso de quase US$ 1,5 bilhão em abril contrasta com resultados recentes. Em novembro de 2008, no auge do nervosismo do mercado financeiro, US$ 7,1 bilhões deixaram o País em apenas 30 dias. Entre setembro de 2008 e março de 2009, saíram US$ 18,3 bilhões. A mudança de sentido recente no fluxo cambial foi sustentada pela recuperação do saldo comercial.
Em meio à melhora das exportações e à forte queda das importações, o comércio exterior respondeu por US$ 4,9 bilhões que ingressaram no Brasil em abril, a melhor marca desde setembro de 2008 e o quarto mês seguido de aumento da entrada pelo fluxo comercial.
A conta financeira, no entanto, continua no vermelho. Em abril, investidores e empresas remeteram US$ 3,48 bilhões ao exterior. Apesar do resultado negativo, o que chama atenção é a concentração das remessas nos dois últimos dias de abril, quando saíram US$ 2,6 bilhões.
"Empresas com dívida no exterior podem ter remetido dólares para pagar os compromissos. Acredito que o movimento desses dois dias tenha sido pontual", diz Agostini. Sem os dois dias, o fluxo financeiro teria saída 74% menor, de US$ 884 milhões. Para o economista, as perspectivas são positivas.
"O estrangeiro está entrando aos poucos, e esse tipo de investidor respondeu por boa parte da recuperação da Bovespa, que saiu dos 29 mil pontos e já está em 51 mil", diz Agostini. Para ele, é provável que mais estrangeiros entrem no mercado brasileiro nas próximas semanas, o que deve reduzir a saída ou até inverter a tendência da conta financeira.(Agência Estado)