Ao lado da rainha: Deferência ao Brasil simboliza nova ordem econômica mundial, com peso dos emergentes
Uma imagem, às vezes, vale mais do que mil palavras. Na foto oficial do encontro londrino do G-20, o grupo formado pelos oito países mais ricos do mundo e pelos emergentes de maior peso econômico, o presidente Lula foi colocado ao lado esquerdo da rainha Elizabeth. À direita dela, estava o primeiro- ministro inglês, Gordon Brown. E, atrás dos três, o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Como na diplomacia cada sinal é milimetricamente calculado, a foto foi feita sob medida para transmitir a ideia de uma nova ordem econômica mundial. Nela, os emergentes estão na dianteira, e não mais no banco de trás - além disso, neste grupo de países, o Brasil é hoje o que desperta maior admiração. Mas, se não bastasse a imagem, ela também veio acompanhada de calorosas palavras de elogio.
Quando Lula foi cumprimentar Obama, que conversava com o primeiro- ministro australiano, Kevin Rudd, o presidente americano disparou: "Ele é o cara! É o político mais popular sobre a face da Terra." E ainda brincou chamando Lula de "boa pinta". No encontro que selou o fim do G-8 e marcou a ascensão definitiva dos emergentes, Lula foi coroado.
Com o cetro real, o presidente começou a sinalizar que o Brasil terá um papel cada vez mais ativo nos debates internacionais. Antes mesmo de chegar a Londres, Lula fez uma escala em Paris, onde se encontrou com Nicolas Sarkozy, e disse que o Brasil poderá ajudar a capitalizar o Fundo Monetário Internacional - uma mudança e tanto para um país que, até recentemente, era cliente contumaz e não credor do Fundo. Ao ser abordado, Lula não deu margem a questionamentos. "O Brasil assumiu responsabilidades maiores e não pode mais se comportar como um país pequeno", disse ele. Ponto final.
Dinheiro novo para enfrentar a crise foi também a mensagem central do encontro do G-20. Países ricos e em desenvolvimento se comprometeram a colocar mais US$ 1 trilhão no FMI, com duas finalidades prioritárias: ajudar as nações com problemas no balanço de pagamentos e financiar o comércio internacional. Os países do G-20 também aprovaram outras medidas importantes, como a decisão de gastar US$ 5 trilhões em estímulos fiscais para reforçar a criação de empregos - a alemã Angela Merkel, que era contra o aumento de gastos públicos, foi voto vencido. Outro ponto crucial foi o aumento da regulação financeira. Será criado um novo órgão, o Conselho de Estabilidade Financeira, que tentará detectar preventivamente focos de futuras crises. Além disso, os hedge funds serão fiscalizados, os bônus dos mercados de capitais serão contidos e haverá um controle maior sobre os paraísos fiscais - esta uma proposta que Lula defendeu enfaticamente.
Da cúpula do G-20, saíram tantas resoluções importantes que até mesmo os economistas mais céticos, como o Nobel Joseph Stiglitz, definiram o encontro como "histórico". "O mundo se reuniu e condenou enfaticamente a desregulamentação financeira", disse ele. Por aqui, houve um diagnóstico parecido. "A cúpula marcou a institucionalização da globalização", disse à DINHEIRO o economista Carlos Langoni, ex-presidente do BC e chefe do centro de estudos internacionais da FGV. Para o advogado Eduardo Felipe Matias, especialista em direito internacional, houve uma inédita convergência entre os interesses dos países ricos e das nações em desenvolvimento. "No desenho da nova arquitetura financeira internacional, o Brasil terá um peso muito relevante", disse ele.
Nos mercados financeiros, o consenso de Londres também provocou uma nova onda de euforia. Na quintafeira 2, a Bolsa de Valores de São Paulo disparou 4,96% e fechou na maior pontuação em seis meses. E isso não foi causado apenas pelo encontro do G-20. Nos Estados Unidos, as vendas de imóveis subiram 4,7% em fevereiro, depois de sete meses de queda. Na China, o índice de atividade industrial no mês de março sinalizou um crescimento maior. "São sinais de que se as coisas ainda não estão melhorando muito, ao menos pararam de piorar", avalia o economista Fernando Padovani, professor da ESPM-RJ.
As previsões econômicas que foram servidas em Londres, no entanto, ainda apontam um cenário sombrio. O Banco Mundial projeta que a economia mundial cairá 1,7% em 2009 - se isso se confirmar, será o primeiro recuo em 60 anos. Os emergentes cresceriam apenas 2,1%. E o avanço do Brasil seria de módico 0,5%. Mas é bom que se diga que os prognósticos têm mudado a cada semana. E esses números também não batem com os sinais animadores que estão surgindo a cada dia na economia brasileira. No primeiro trimestre deste ano, as montadoras venderam 668 mil automóveis, o que representou uma alta de 3,14% em relação ao ano passado. E, para quem diz que só o mercado interno vai bem, os números do saldo comercial surpreenderam em março - o superávit cresceu 79% e chegou a US$ 1,8 bilhão. Mas talvez ainda seja prematuro apontar uma virada na crise internacional. No dia em que os líderes do G-20 se reuniam em Londres, empresas do porte da Renault e da IBM anunciaram grandes demissões.
Um relatório da OCDE previu uma queda do PIB global ainda mais dramática do que a do Banco Mundial, com um número negativo de 2,7%. E toda essa tensão alimentou os protestos do lado de fora do Palácio de Buckingham, onde 111 pessoas foram presas. Um homem de 35 anos morreu, depois de sofrer um ataque cardíaco em meio à multidão. O mundo se uniu em Londres, consagrou a liderança brasileira, mas a agenda para superar a crise ainda é bem extensa.
O encontro de Londres marcou de vez a ascensão do Brasil na cena internacional - e isso simboliza também a tomada de poder pelos emergentes (Leonardo Attuch)
Quando Lula foi cumprimentar Obama, que conversava com o primeiro- ministro australiano, Kevin Rudd, o presidente americano disparou: "Ele é o cara! É o político mais popular sobre a face da Terra." E ainda brincou chamando Lula de "boa pinta". No encontro que selou o fim do G-8 e marcou a ascensão definitiva dos emergentes, Lula foi coroado.
Com o cetro real, o presidente começou a sinalizar que o Brasil terá um papel cada vez mais ativo nos debates internacionais. Antes mesmo de chegar a Londres, Lula fez uma escala em Paris, onde se encontrou com Nicolas Sarkozy, e disse que o Brasil poderá ajudar a capitalizar o Fundo Monetário Internacional - uma mudança e tanto para um país que, até recentemente, era cliente contumaz e não credor do Fundo. Ao ser abordado, Lula não deu margem a questionamentos. "O Brasil assumiu responsabilidades maiores e não pode mais se comportar como um país pequeno", disse ele. Ponto final.
Dinheiro novo para enfrentar a crise foi também a mensagem central do encontro do G-20. Países ricos e em desenvolvimento se comprometeram a colocar mais US$ 1 trilhão no FMI, com duas finalidades prioritárias: ajudar as nações com problemas no balanço de pagamentos e financiar o comércio internacional. Os países do G-20 também aprovaram outras medidas importantes, como a decisão de gastar US$ 5 trilhões em estímulos fiscais para reforçar a criação de empregos - a alemã Angela Merkel, que era contra o aumento de gastos públicos, foi voto vencido. Outro ponto crucial foi o aumento da regulação financeira. Será criado um novo órgão, o Conselho de Estabilidade Financeira, que tentará detectar preventivamente focos de futuras crises. Além disso, os hedge funds serão fiscalizados, os bônus dos mercados de capitais serão contidos e haverá um controle maior sobre os paraísos fiscais - esta uma proposta que Lula defendeu enfaticamente.
Da cúpula do G-20, saíram tantas resoluções importantes que até mesmo os economistas mais céticos, como o Nobel Joseph Stiglitz, definiram o encontro como "histórico". "O mundo se reuniu e condenou enfaticamente a desregulamentação financeira", disse ele. Por aqui, houve um diagnóstico parecido. "A cúpula marcou a institucionalização da globalização", disse à DINHEIRO o economista Carlos Langoni, ex-presidente do BC e chefe do centro de estudos internacionais da FGV. Para o advogado Eduardo Felipe Matias, especialista em direito internacional, houve uma inédita convergência entre os interesses dos países ricos e das nações em desenvolvimento. "No desenho da nova arquitetura financeira internacional, o Brasil terá um peso muito relevante", disse ele.
Nos mercados financeiros, o consenso de Londres também provocou uma nova onda de euforia. Na quintafeira 2, a Bolsa de Valores de São Paulo disparou 4,96% e fechou na maior pontuação em seis meses. E isso não foi causado apenas pelo encontro do G-20. Nos Estados Unidos, as vendas de imóveis subiram 4,7% em fevereiro, depois de sete meses de queda. Na China, o índice de atividade industrial no mês de março sinalizou um crescimento maior. "São sinais de que se as coisas ainda não estão melhorando muito, ao menos pararam de piorar", avalia o economista Fernando Padovani, professor da ESPM-RJ.
As previsões econômicas que foram servidas em Londres, no entanto, ainda apontam um cenário sombrio. O Banco Mundial projeta que a economia mundial cairá 1,7% em 2009 - se isso se confirmar, será o primeiro recuo em 60 anos. Os emergentes cresceriam apenas 2,1%. E o avanço do Brasil seria de módico 0,5%. Mas é bom que se diga que os prognósticos têm mudado a cada semana. E esses números também não batem com os sinais animadores que estão surgindo a cada dia na economia brasileira. No primeiro trimestre deste ano, as montadoras venderam 668 mil automóveis, o que representou uma alta de 3,14% em relação ao ano passado. E, para quem diz que só o mercado interno vai bem, os números do saldo comercial surpreenderam em março - o superávit cresceu 79% e chegou a US$ 1,8 bilhão. Mas talvez ainda seja prematuro apontar uma virada na crise internacional. No dia em que os líderes do G-20 se reuniam em Londres, empresas do porte da Renault e da IBM anunciaram grandes demissões.
Um relatório da OCDE previu uma queda do PIB global ainda mais dramática do que a do Banco Mundial, com um número negativo de 2,7%. E toda essa tensão alimentou os protestos do lado de fora do Palácio de Buckingham, onde 111 pessoas foram presas. Um homem de 35 anos morreu, depois de sofrer um ataque cardíaco em meio à multidão. O mundo se uniu em Londres, consagrou a liderança brasileira, mas a agenda para superar a crise ainda é bem extensa.
O encontro de Londres marcou de vez a ascensão do Brasil na cena internacional - e isso simboliza também a tomada de poder pelos emergentes (Leonardo Attuch)