A retomada do comércio no início do ano deve deixar analistas de mercado bastante ocupados nesta semana que começa. Mal terminaram de prever recessão para 2009, economistas souberam que, depois do Produto Interno Bruto (PIB) negativo no último trimestre, veio o crescimento do consumo em janeiro. A reação nas vendas foi generalizada entre a maioria dos segmentos e também mais forte nos maiores estados da economia brasileira. A reposição de estoques por causa da reação do varejo pode realimentar a indústria.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que entre dezembro e janeiro, o volume de vendas cresceu 1,4%, praticamente retomando o patamar de outubro. O resultado surpreendeu o mercado, que esperava um resultado negativo, como já vinha ocorrendo três meses antes. Em relação a janeiro do ano passado, houve crescimento de 6% em todo o País. Em São Paulo (8,7%) no Rio de Janeiro (7,8%), maiores praças da economia, o aumento foi ainda maior que a média. Sete dos dez ramos investigados pelo IBGE voltaram a vender mais.
Para o pesquisador do IBGE, Reinaldo Pereira, o resultado pode indicar que o medo de perder emprego entre os brasileiros não foi maior que a decisão de comprar. "Se houve esse resultado, é porque o consumo continua. O impacto da crise, na verdade, é maior lá fora", afirmou.
As vendas de veículos e motos, partes e peças aumentaram 11,1% no primeiro mês do ano, refletindo a redução do imposto na produção e a queda de preços. Livros, jornais, revistas e papelaria também foram mais vendidos, com incremento de 7,6%. Até mesmo o ramo de móveis e eletrodomésticos (7,1%), que depende fortemente de crédito, foi reanimado.
Informática e comunicação
O IBGE também apurou aumento nas vendas de outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,8%); tecidos, vestuário e calçados (2,2%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,8%) e Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,3%). Por outro lado, equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-12,5%); material de construção (-2,8%) e combustíveis e lubrificantes (-0,7%) apresentaram resultados negativos.
"O número forte de janeiro sinaliza que a atividade interna está se recuperando na margem neste começo de 2009, reforçando a perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano", avaliam os analistas a LCA Consultores.
De acordo com o relatório, trata-se de um importante indício, em conjunto com outros - como os licenciamentos de automóveis e comerciais leves da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o consumo de energia elétrica apurado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Sensor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Sinalizador da Produção Industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) - de que, depois de ter sofrido um tombo de 3,6% no quarto trimestre de 2008, o PIB brasileiro não vai sofrer queda semelhante nos primeiros três meses deste ano. "Nossa estimativa é de estabilidade a uma ligeira alta marginal do PIB no primeiro trimestre de 2009 em relação ao último período", destaca nota.
Para os especialistas, a recuperação do comércio varejista ampliado (que inclui a comercialização de automóveis e autopeças bem como de material de construção) se deve particularmente ao pacote de estímulo do governo para a indústria automotiva. "Essa recuperação do comércio ampliado se deu principalmente por conta da retomada das vendas de automóveis e comerciais leves, em função da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) implementada em meados de dezembro, já que as vendas de material de construção continuam caindo - ainda em ritmo cada vez menores", concluem.
Produtos alimentícios
As demais variações, por ordem de importância, foram: 7,0% para Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo; 6,3% para Móveis e eletrodomésticos; 15,4% para Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação; 8,9% para Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos; 3,8% para Combustíveis e lubrificantes; 5% em Outros artigos de uso pessoal e doméstico e 23,9% para Livros, jornais, revistas e papelaria.