O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, "sofre pressões de todos os lados", diz o jornal americano Washington Post, em sua edição desta quinta-feira.
Em entrevista concedia ao jornal, o ministro diz que é "um ecologista dentro do governo, mas é do governo" e que equilibrar estes dois papéis se mostrou difícil.
O ministro conta que sofre pressões "todo dia, o dia todo, nas mais diferentes formas imagináveis" para aprovar projetos que têm impacto ambiental.
O artigo cita como exemplo a suspensão, em setembro, do processo de licenciamento da estrada que liga Porto Velho a Manaus.
Minc diz que queria garantir que o projeto incluísse a criação de suficientes áreas protegidas em volta da estrada, e pediu que fosse levada em conta a possibilidade da construção de uma ferrovia, ao invés de uma auto-estrada.
"Este projeto é um sonho do Ministério dos Transportes. Eles querem isto o mais depressa possível. Eles querem a licença (ambiental) amanhã. Eles estão nos pressionando", disse Minc ao jornal, garantindo: "Eu mantive minha decisão. Sem proteção suficiente, eu não darei a licença."
'Che Guevara'
O jornal americano lembra o passado de militância esquerdista do ministro brasileiro na década de 60, e diz que ele tinha "metas grandiosas em seus anos de juventude", quando ambicionava ser um "Che Guevara". "Mas nos primeiros seis meses como principal autoridade ambiental, Minc, 57 anos, descobriu que o nível de combate neste cargo burocrático é mais do que suficiente" em sua trajetória.
Minc assumiu o cargo em maio, depois da repentina renúncia de Marina Silva, que "conquistou status de ícone nos círculos ambientais por sua defesa da maior floresta tropical do mundo", e sentiu que logo começaram as cobranças, diz o diário.
"Em sua primeira semana no cargo, ele (Minc) lembra que foi indagado em uma reunião de autoridades ambientais mundiais em Bonn, na Alemanha, se a Amazônia iria 'se transformar em poeira' durante sua gestão", lê-se no Washington Post.
Desde então, a administração do ministro "tem sido marcada por uma tendência a gestos ousados, mas controvertidos", como o envio de soldados para confiscar gado em áreas desmatadas ilegalmente e a inclusão do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) na lista que divulgou dos cem maiores desmatadores do país.
"Cada medida que eu adoto está na TV. Eu não tenho vergonha do que eu faço", diz Minc. "Você precisa criar exemplos. Você precisa da TV. Ou as pessoas acham que podem destruir a floresta e não vai acontecer nada."
Segundo o jornal, Minc causa controvérsia entre os ativistas pelo meio ambiente. Stephan Schwartzman, especialista em Amazônia do Fundo para a Defesa Ambiental em Washington disse que "ainda é cedo para julgar, mas é certo que Minc sucede a uma ministra do Meio Ambiente que deixou um legado incrível".
'Otimismo cauteloso'
"Vários ambientalistas disseram que mantém um otimismo cauteloso até agora de que Minc não pretende se afastar radicalmente das políticas de (Marina) Silva, embora alguns expressem preocupação de que ele parece mais disposto a aprovar projetos de desenvolvimento de larga escala planejados no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", de acordo com o Washington Post.
"Minc disse que espera ser criticado por todos os lados e às vezes acha isso útil. Pressão de grupos ambientais ajudam-no a exigir mais concessões de empresas e do governo", afirma o artigo.
O artigo termina com uma avaliação de Paulo Adário, do Greenpeace. "Eu acho que ele está fazendo um bom trabalho. Nós temos que levar em conta que quando Marina Silva deixou o Ministério e Minc foi convidado a assumir, foram colocadas muitas exigências sobre seus ombros. Todo mundo agora quer soluções para vários problemas diferentes", diz Adário.