23 de maio de 2008

A Folha não gostou da venda da Caixa para o Banco do Brasil...O negócio deve ser bom para o povo


Contrariados com a possibilidade de avanço do Banco do Brasil em São Paulo, os bancos privados já pressionam o governo do Estado por causa das negociações para a venda da Nossa Caixa, segundo apurou a Folha. Os bancos privados alertam para o risco de que a operação seja objeto de influência política, que beneficiaria as instituições públicas na disputa pelo mercado paulista. Anteontem, o presidente da Febraban, Fabio Barbosa, manifestou à Folha sua preocupação de que o negócio não siga "regras de mercado".

O fato é que um ativo de R$ 16 bilhões, relativo aos depósitos judiciais, pavimenta a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil. Segundo integrantes do governo Serra, não está descartada a negociação com instituições privadas, mas a legislação prevê que os depósitos judiciais devem ficar em bancos públicos, como o Banco do Brasil. Na Nossa Caixa, os depósitos judiciais somam R$ 16 bilhões, praticamente o dobro do total de depósitos em poupança, de cerca de R$ 9 bilhões. Sem direito aos depósitos judiciais, os bancos privados ofereceriam um preço menos vantajoso para o Estado, como explica o próprio presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos.

"Um dos fatores mais relevantes na formação do preço é o fato de que os depósitos judiciais permanecem em uma instituição financeira pública. Num banco privado, por força da lei, esses depósitos judiciais não permaneceriam", disse ele, admitindo que o negócio ficaria "menos atraente": "Bem menos atraente, o valor [pago] ficaria muito menor, e o governo não teria interesse em vender para um banco privado", disse o presidente do banco.

Santos evita falar sobre a negociação. "O assunto deve ser tratado com o acionista controlador, que é o governo. Sou um executivo do banco. Estou tocando o banco, procurando fazer com que seja o mais rentável possível, mas esse assunto não é da minha alçada", disse o presidente da Nossa Caixa.

Além do interesse do BB pelos depósitos judiciais, a venda para um banco estatal é bem mais palatável politicamente. Na Assembléia Legislativa de São Paulo, a privatização enfrentaria a oposição até mesmo de tucanos. Agora, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem os petistas imporiam muita resistência ao negócio.

A rede de agências e as operações da Nossa Caixa interessa a todos os bancos comerciais, especialmente ao Bradesco, que busca reconquistar sua liderança em São Paulo, que será perdida após a incorporação do ABN Real pelo Santander. Com a Nossa Caixa, o BB somará 1.241 agências e deverá assumir a liderança no Estado. Juntos, o Santander e o ABN Real somam cerca de 1.200 agências, enquanto o Bradesco têm 1.022, e o Itaú, 816.

No ano passado, a venda sem licitação da folha de pagamentos dos servidores paulistas para a Nossa Caixa por R$ 2 bilhões enfureceu os demais concorrentes, que procuraram barrar o negócio na Justiça.

Banco do Brasil e Nossa Caixa buscam ganhar eficiência e diminuir custos fixos com sua operação. Nos últimos anos, ambos os bancos ficaram para traz em relação à concorrência em termos de lucratividade e de retorno para o acionista, indicador medido pela rentabilidade sobre o patrimônio líquido. Enquanto Itaú e Bradesco apresentam retorno da ordem de 25,5% e 29,44% do patrimônio, o BB e a Nossa Caixa estão ainda em 23% e 11,5%, respectivamente, segundo dados da consultoria Economática.

Na Nossa Caixa, a notícia sobre o negócio causou surpresa pelo momento, considerado politicamente inadequado tendo em vista as eleições municipais de outubro. Desde que Santos assumiu a presidência do banco paulista, os funcionários sentiram que a função dele seria sanear e preparar o banco para uma possível venda. No mercado financeiro, o principal temor é que o Banco do Brasil acabe pagando um preço exorbitante pelo banco estatal paulista.

Como as ações de ambos os bancos são populares na Bolsa, a expectativa é que a negociação mexa com os brios dos investidores a partir de hoje.


Agronegócio

Em jogo está também a presença do Banco do Brasil no agronegócio paulista, o mais consolidado do país e que começa a despertar a cobiça do espanhol Santander, entre os outros bancos.

A presença tímida no interior de São Paulo torna o Banco do Brasil, líder no financiamento no campo, vulnerável a perder mercado no Estado, especialmente entre os pequenos e médios agricultores, vários deles clientes da Nossa Caixa. A Nossa Caixa agrega ainda uma carteira importante de financiamento imobiliário, setor em que o Banco do Brasil chegou atrasado em relação à concorrência. Até pouco tempo atrás, o governo federal deixava a exploração do crédito imobiliário para a CEF (Caixa Econômica Federal).

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