23 de janeiro de 2008

Do pânico total ao paraíso em 24 horas


Para quem acompanhou a queda livre dos mercados na segunda-feira, custou a acreditar na arrancada que eles tiveram ontem. O Índice Bovespa, por exemplo, que caiu 6,60% na segunda, chegou a subir 5,27% ontem e fechou em alta de 4,45%, aos 56.097 pontos. Essa mudança repentina e acentuada de humor, beirando a esquizofrenia, deve-se à decisão extraordinária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de cair a taxa de juros dos EUA em 0,75 ponto percentual, de 4,25% para 3,50% ao ano. Uma parte do mercado esperava um corte dessa magnitude, mas apenas na reunião normal do Fed, que ocorrerá entre os dia 29 e 30. Já outros apostavam que o BC dos EUA fizesse um primeiro corte cirúrgico, por exemplo, de 0,25 ponto percentual, antes da reunião. Só que, percebendo a rápida deterioração do cenário da economia nos últimos dias, o xerife da política monetária resolveu agradar a todos, derrubando os juros antes e numa dose mais poderosa.

Índice oscila dez pontos percentuais em dois dias

A última vez que houve um corte ou uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa foi em novembro de 1994, quando ocorreu um aumento nessa proporção. Nem na recessão de 2001, o Fed realizou um corte tão grande. Para o chefe de análise da Link Investimentos, Celso Boin Júnior, a queda e a alta exageradas que as bolsas tiveram nos últimos dois dias é sinal de como o mercado está irracional, agindo como uma criança mimada, que sobe quando tem o que quer e cai quando lhe dizem não.

"A questão é saber se a mamãe Fed e o papai Tesouro americano vão continuar dando chocolate para essa criança mal acostumada", diz Boin. Pela decisão de ontem, a resposta ainda é sim. Para ele, ao mesmo tempo em que o corte de ontem é positivo porque reduz a possibilidade de uma recessão muito forte nos EUA, é negativo porque mostra que o Fed virou refém do mercado, atendendo a todos os pedidos. "Quando a mãe nunca diz não, a criança continua agindo de forma irresponsável, exatamente como os investidores fizeram até agora, tomando muito risco em suas carteiras, ignorando todos os sinais preocupantes vindos dos EUA há meses", completa Boin. Ele acredita que o mais coerente seria o Fed cair juros apenas na reunião do fim do mês e aumentar os incentivos para o consumo via o pacote fiscal.

Tudo o que desce também sobe

As ações de commodities, que lideraram as quedas na segunda-feira, ontem foram as grandes responsáveis pela puxada do Ibovespa. As ordinárias (ON, com voto) da Petrobras subiram 10,58% e as preferenciais (PN, sem voto), 9,76%. As ONs da CSN subiram 10,42%. Já as PNAs da Vale se valorizaram 4,09% e as ONs, 2,98%. "Com o corte da taxa de juros e a possibilidade de uma recessão mais fraca nos EUA, os investidores voltaram a cogitar que o ciclo de alta das commodities irá se manter", diz o estrategista de renda variável para pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos. Essas ações também se beneficiaram de eventos específicos, como a Petrobras, com a descoberta da jazida de gás.

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